(Patrícia Negrão, da Agência Patrícia Galvão) O Partido dos Trabalhadores aprovou a cota de 50% para mulheres na composição das direções, delegações, comissões e cargos com funções específicas de secretarias. A composição paritária entre homens e mulheres na direção do Partido dos Trabalhadores (PT) passa a valer a partir do próximo Processo de Eleições Diretas (PED), em 2013.
Entrevistada pela Agência Patrícia Galvão, a pesquisadora Teresa Sacchet (USP) analisa o quanto a força política das mulheres dentro do partido irá refletir no seu poder de decisão e no aumento do número de candidaturas de mulheres.
O PT dá um passo importante, mas só isso não basta para haver igualdade de gênero
Teresa Sacchet– cientista política e pesquisadora
Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas da USP
São Paulo/SP
(11) 3091-3272 (nupps) – 8110-3570 – [email protected]
“Em 1991, quando as mulheres conseguiram a cota de 30% dentro do PT, foi um momento histórico do país. O PT foi um dos primeiros partidos da América Latina a ter essa cota. Agora, novamente, o PT dá mais um passo importante ao decidir pela paridade. Sinaliza para os outros partidos a importância da participação das mulheres e reconhece a luta das mulheres que tiveram papel importante na construção do PT. Em 1991, outras instâncias seguiram o exemplo do PT; a CUT, por exemplo, adotou as cotas em 1993, e outros partidos como o PDT, o PV etc, fizeram o mesmo. Na política, a tendência é que, quando um partido dá um passo na direção de ampliar os direitos de determinados grupos sociais, outros partidos o seguem com o objetivo de não perderem voto daquele setor. O PT iniciou um movimento em favor da igualdade de gênero, vamos esperar que os outros façam o mesmo, que haja novamente o efeito de contágio.
Porém, só isso não basta para haver igualdade de gênero. De 1991 para cá, ou seja, nestes 20 anos, o PT só cumpriu a cota de 30% de mulheres em nível nacional, e no nível estadual e municipal nem sempre. Portanto, há necessidade de maior controle e fiscalização para que as cotas sejam realmente implementadas em todos os níveis da instância partidária.
É fundamental também que as mulheres tenham mais experiência política para que acumulem o capital político necessário para se eleger. Importante também é a transformação da cultura machista ainda predominante e que valoriza mais modelos de comportamento masculino, para que as mulheres consigam participar de maneira igualitária, em uma estrutura que as inclua e não que as ignore. Muitas reclamam que não são ouvidas dentro dos partidos da mesma forma que os homens.
A condição de competição entre homens e mulheres ainda é muito desigual. O avanço das mulheres nas instâncias partidárias não reflete nas esferas representativas. As mulheres do PT não estão conseguindo que o partido cumpra a cota dos 30% para candidaturas no legislativo.
Não se pode deixar de levar em conta, também, que a maioria das mulheres ainda é responsável pelo cuidado com os filhos e, para participar, precisam de estrutura, como creches e horários compatíveis com suas responsabilidades.”