Apoio dos homens às causas das mulheres no Globo de Ouro 2017 se limitou às roupas pretas e ao brochinho: ninguém se preocupou em protestar de fato.
(M de Mulher, 08/01/2018 – acesse no site de origem)
O Globo de Ouro 2017 foi marcado pelos protestos das mulheres contra os casos de assédio em Hollywood, a desigualdade salarial e o machismo. Muito se falou sobre homens e mulheres unidos pela causa, vestindo preto no tapete vermelho e usando o broche desenhado pelo movimento Time’s Up. Mas tanto quanto o dress code, chamou a atenção o fato de que nenhum dos vencedores da noite usou o espaço de seus discursos para protestar em favor da causa.
Sim, claro que eles citaram mulheres importantes de suas vidas. Desde o primeiro vencedor, Sterling K. Brown, até o último, Gary Oldman, todos agradeceram às namoradas, mulheres, filhas e mães. Ewan McGregor, inclusive, agradeceu à esposa, Eve Mavrakis e à namorada, Mary Elizabeth Winstead, no mesmo discurso. Mas ninguém teve coragem de botar o dedo na ferida e falar sobre os casos de assédio, sobre Harvey Weinstein, sobre suas colegas de profissão que sofreram e sofrem nas mãos de predadores sexuais.
Com a exceção de Seth Meyers, que apresentou o prêmio e, logo no começo, disparou uma série de piadas sobre Weinstein, e ao produtor executivo de “The Handmaid’s Tale” Bruce Miller, que fez uma referência ao movimento #metoo em seu discurso, restou às mulheres falar sobre essa questão que tanto as prejudica. O apoio ficou no broche e na roupa preta – que, inclusive, é a cor mais usada nos trajes de gala masculinos, independentemente de protestos.
Mesmo homens que trabalharam em séries e filmes que tem violência contra a mulher como tema – como é o caso de Alexander Skarsgård, vencedor do prêmio de melhor ator coadjuvante em TV por “Big Little Lies” – ignoraram a temática em seus discursos, e se limitaram a agradecer as colegas de elenco “extraordinariamente talentosas”.
O contraste entre a postura das mulheres e dos homens era gritante. Elas levaram ativistas para falarem em favor de suas causas no tapete vermelho. Elisabeth Moss citou Margaret Atwood e disse que agora mulheres são a história. Laura Dern pediu por justiça restaurativa, empregos para vítimas de violência e educação para que as meninas saibam que devem falar dos abusos que sofrem. Oprah Winfrey fez um discurso inteirinho dedicado às mulheres que sofrem assédio e abuso e lutam para que as coisas mudem.
Enquanto isso, os vencedores homens recebiam seus prêmios como se nada estivesse acontecendo ou precisasse mudar. Com seus discursos padrão e piadinhas – Aziz Ansari agradeceu até à Itália pela boa comida, mas não mencionou violência ou assédio – fica evidente que as mulheres em Hollywood ainda estão lutando sozinhas e precisarão romper muitas barreiras e derrubar muitos privilégios masculinos até chegar o novo dia nascendo no horizonte prometido por Oprah Winfrey.