Dia Mundial da Luta contra a Mutilação Genital, celebrado nesta terça-feira (6), lembra que 3 milhões de meninas morrem todos os anos em decorrência deste tipo de agressão, ainda tolerada em muitos países do mundo.
(G1, 06/02/2018 – acesse no site de origem)
Na Costa do Marfim, cerca de 30% a 40% das mulheres sofreram mutilação genital, uma prática ilegal, passível de ser punida por lei, mas que ainda vigora informalmente na sociedade local. As crianças do sexo feminino são geralmente mutiladas desde o nascimento, mas a prática está tão arraigada que algumas adolescentes decidem passar pela excisão genital para não serem excluídas de seu grupo ou comunidade.
Foi o caso da escritora marfinense Aminata Traoré, que atualmente realiza um trabalho de sensibilização nas escolas do país africano contra a prática. “Nas escolas secundárias, a menina que não sofreu excisão genital fica fora do grupo, ela é rejeitada por outros…
Em algum momento, ela mesma toma a iniciativa de sofre a mutilação sem o consentimento dos pais. É chocante, mas é uma convenção social na aldeia e a garota pensa que ela deve pertencer a essa sociedade: ela é moralmente obrigada a ser mutilada”, diz Traoré.
A escritora decidiu realizar um trabalho de conscientização nas escolas secundárias “para permitir que as crianças exprimam sua opinião, essas crianças escolarizadas que se tornarão a base em suas famílias e nas escolas”. “Os próprios jovens rejeitam aquelas que não sofreram mutilação durante o recreio nos colégios, acham que trazem má sorte”, conta.
No Chade, mutilações são punidas, mas as tradições persistem
As mutilações genitais femininas, práticas que remontam ao período pré-colonial, também são reprimidas por lei. Mas a prática não dá sinais de recuar, embora várias sanções tenham sido implementadas, dentro de uma política de conscientização.
A região de Mandoul, no sul do Chade, é uma das partes do país onde a prática da excisão é generalizada. Todos os anos durante as férias, centenas de meninas são mutiladas, algumas vindas da capital. “2015, por exemplo, foi um ano recorde quando mais de 200 garotas foram extirpadas”, lembra o secretário-geral da região.
As autoridades lançaram um movimento de forte repressão à excisão genital no país, sem conseguir, no entanto, diminuir este fenômeno que resiste clandestinamente. A partir das dificuldades encontradas, autoridades e associações perceberam que, em vez de repressão, o caminho deve ser o de dialogar e convencer.
Naïlar Clarisse, presidente da Liaison Cell of Women’s Associations, concorda com esta alternativa. “Com a conscientização fomos capazes de fazer muitos progressos. Hoje, as pessoas estão se tornando conscientes deste problema e até reconhecem agora que a prática da mutilação genital feminina mina a integridade física destas garotas”, diz.
De acordo com o novo Código Penal Chadiano, a mutilação genital feminina é punida com prisão de um a cinco anos, além de uma multa de até 100 mil francos chadianos, cerca de R$ 600.
Mutilação genital é praticada em todo o mundo
O fenômeno da mutilação genital na África é muitas vezes destacado por especialistas e jornalistas, mas a prática não se limita a esse continente, como explica Christine Beynis, enfermeira aposentada com experiência na Guiné e na França, entrevistada pela RFI. “Há muito mais mulheres mutiladas na Indonésia do que na África”, explica a ex-enfermeira. As mulheres indonésias são todas excisadas! ”, denuncia.
O número de mulheres extirpadas no mundo atualmente é de 200 milhões: “No Iêmen, no Iraque, as mulheres curdas são todas excisadas, continua Christine Beynis, “ouvi dizer que até as mulheres chechenas haviam sido submetidas à excisão”, afirma.
“Um grande trabalho já foi feito. Temos países como o Burkina Faso, que é realmente um líder na luta contra a excisão, já que a taxa de prevalência – a taxa de excisão das jovens – caiu, acredito. Estamos em torno de 50% ou 60%. Isso só foi possível graças a uma vontade política. Foi criado um número gratuito para atendimentos e informações. No Senegal, também, houve condenação de praticantes da mutilação genital em garotas”, conclui a enfermeira.