Ao mesmo tempo que ressalta comoção mundial, jornal dos EUA ressalta que ‘especialmente em meio à elite branca brasileira’, assassinato da vereadora carioca não é visto como uma questão de racismo.
(G1, 20/03/2018 – acesse no site de origem)
Em uma reportagem sobre Marielle Franco publicada na segunda-feira (19) e que ganhou destaque na capa do jornal nesta terça-feira (20), o “Washington Post”, um dos mais influentes dos EUA, descreveu a vereadora carioca assassinada como um “símbolo global” contra o racismo.
A reportagem apresenta Marielle como a única mulher negra entre os 51 vereadores do Rio de Janeiro, que denunciava a violência policial e o alto índice de assassinatos nos morros cariocas. “[Marielle] Franco argumentava”, ressalta o jornal, “que a matança não era somente uma guerra contra os pobres. Mas também uma guerra contra os negros”. O texto ressalta que, embora seus assassinos não tenham sido identificados, o Ministério Público Federal aponta indícios de execução por parte de “policiais corruptos”.
“Mas se o objetivo foi silenciar uma política negra em rápida ascensão que denunciava policiais corruptos, a aparente execução de [Marielle] Franco fez o contrário”, diz o jornal americano. “Nos dias que se seguiram, a maior nação latino-americana assistiu admirada uma figura até então pouco conhecida fora do Rio ser transformada em um símbolo global contra a opressão racial.”
O “Post” dá destaque às manifestações internacionais em memória da vereadora, como a homenagem feita no Parlamento Europeu.
“Multidões protestaram contra seu assassinato e celebraram sua vida nas ruas de Nova York, Londres, Paris, Munique, Estocolmo e Lisboa. Uma vigília está marcada para ela em Madri na terça-feira”, enumera o texto, assinado pelo correspondente-chefe do jornal para a América do Sul e Caribe, Anthony Faiola, e pela correspondente no Rio de Janeiro, Marina Lopes. O tuíte da modelo britânica Naomi Campbell também foi citado.
Divisões no Brasil
Ao mesmo tempo em que fala da comoção com o crime no Brasil, o texto também ressalta a discussão que ele causou – a qual, segundo o “Post”, “sublinha as divisões raciais que muitos brasileiros alegam não existir aqui [no Brasil]”.
“Em alguns círculos, particularmente entre a elite branca brasileira, o assassinato está sendo visto como um ato odioso que chama a atenção para a corrupção e a violência desenfreadas em uma cidade que é a vitrine do Brasil. Mas não está sendo visto como uma questão de racismo.”
O jornal americano destaca tanto o alto número de policiais mortos quanto o alto número de pessoas mortas por policiais, “a maioria negros”. Não fica claro se o artigo se refere ao Rio de Janeiro ou ao Brasil como um todo.
Segundo dados do Instituto Igarapé usados pelo artigo, “entre 2005 e 2015, a proporção de brasileiros pretos e pardos assassinados subiu 18% enquanto a estatística para brancos caiu em 12%”.
O fato de só haver políticos brancos no comando de ministérios em Brasília também é citado como indício de falta de representatividade dos negros na política.