Em relatório, a ONG descreve ataques e ameaças gráficas constantes na plataforma
(CartaCapital, 07/04/2018 – acesse no site de origem)
Durante 16 meses, a Anistia Internacional conduziu pesquisas qualitativas e quantitativas sobre as experiências de mulheres no Twitter, incluídos abusos e violências enfrentados pelas usuárias da plataforma.
O relatório, publicado no fim de março, define a rede social como um ambiente “tóxico” para mulheres, cada vez mais coagidas a não se expressar livremente para evitar abusos de outros usuários.
Foram entrevistadas 86 mulheres entre jornalistas, políticas, ativistas, escritoras e integrantes de grupos minoritários, entre outros. A pesquisa destaca as experiências particulares de violência contra mulheres de cor, minorias étnicas ou religiosas, lésbicas, bissexuais, transexuais, indivíduos não-binários e mulheres com deficiências.
Casos de abuso na plataforma são frequentes, diz a ONG, mas nem sempre os responsáveis pelos mesmos acabam punidos ou investigados pelo Twitter. Desta forma, a rede social alimenta o comportamento agressivo, com impacto negativo na vida de muitas mulheres.
No relatório, a Anistia Internacional reconhece que indivíduos de todos os gêneros estão sujeitos a ataques nas redes sociais, mas destaca que os abusos cometidos contra as mulheres costumam ser sexistas, sexualizados e com referências específicas aos seus corpos. Eles têm como objetivo humilhar, intimidar, degradar e silenciar usuárias pelo fato de ser mulheres.
As entrevistadas relataram um amplo leque de violências às quais foram expostas no Twitter, como ameaças físicas diretas e indiretas, ameaças de violência sexual, abusos específicos contra a identidade feminina, e ameaças de violação de privacidade (como publicar imagens íntimas ou informações pessoais para causar transtornos ou humilhar a vítima).
Em novembro do ano passado, a Anistia Internacional encomendou uma pesquisa online para investigar abusos enfrentados por mulheres nas redes sociais de oito países, entre eles o EUA e o Reino Unido.
Os resultados mostraram que 23% experimentaram algum tipo de abuso ao menos uma vez. Nos EUA e Reino Unido, 59% daquelas que experimentaram abusos ou assédio disseram que os ataques partiram de estranhos.
No Reino Unido, 18% afirmaram que os responsáveis pelo ataques eram ex ou atuais parceiros. Esse número foi de 23% nos EUA. A mesma pesquisa ainda mostrou que 29% das mulheres norte-americanas (27% no Reino Unido) experimentaram ameaças de violência física ou sexual em redes sociais, entre elas o Twitter.
No relatório da ONG de março deste ano, uma ativista pelos direitos das mulheres relata ter recebido 200 mensagens abusivas por dia no Twitter. Os ataques aumentavam conforme ela aparecia na mídia.
Esse tipo de ataque teve profundo impacto na sensação de segurança das mulheres entrevistadas. Algumas chegaram a adorar medidas de proteção no “mundo real”, como mudar o sobrenome dos filhos na escola para protegê-los. Uma outra mulher passou a recusar aparições na mídia durante sua gravidez por temer ataques.
A Anistia destaca que o Twitter não revela publicamente como responde aos abusos cometidos em sua plataforma ou como implementa suas regras. A empresa se recusou três vezes a compartilhar com a ONG informações sobre o processo de denúncia de usuários e o índice de resposta a essas denúncias. Diversas mulheres entrevistadas pela organização internacional acusaram o Twitter de não lidar corretamente com suas denúncias.
Segundo a rede social, os dados absolutos não seriam “informativos” e poderiam ser “enganosos”, pois, em muitos casos, usuários denunciam conteúdos apenas para silenciar outros indivíduos. A empresa informa que pode demorar até 24 horas para confirmar o recebimento de uma denúncia, mas não há garantia explícita de que a plataforma irá responder aos relatos de abuso ou em quanto tempo isso ocorreria.
Gabriel Bonis