Iniciativas contra o machismo se ampliam na internet, favorecendo o comércio, o consumo e o empreendedorismo, livres de preconceito.
(G1, 14/04/2018 – acesse no site de origem)
As redes sociais são ‘meios de empoderar as pessoas para que possam construir comunidades e aproximar o mundo’. Essa definição feita pelo criador do Facebook, Mark Zuckerberg, é a inspiração para grupos exclusivamente femininos que ganham força e vão além do comércio on-line, do consumo e do empreendedorismo. Eles são sinônimo de resistência, e mostram que as mulheres, unidas, podem vencer o preconceito de gênero e o machismo.
Com esse pensamento, a universitária Wendy Borges, de 18 anos, criou o grupo ‘De Gótica para Gótica’, voltado a “vendas, compras, trocas e doação” dentro de uma rede social. O acesso é reservado apenas a mulheres da Baixada Santista, no litoral de São Paulo, mediante aprovação das moderadoras. O coletivo, criado em 2016, conta com mais de 14 mil integrantes espalhadas pelas cidades da região.
Wendy, que é estudante de licenciatura em música, diz que a inspiração para criar o ‘De Gótica para Gótica’ foi a grande quantidade de grupos de comércio livre no Facebook, sem que houvesse um espaço exclusivo para mulheres. “Elas se sentem mais seguras dentro de um espaço reservado apenas para elas”.
O grupo não se restringe ao comércio virtual. Ele também inclui o suporte oferecido pelas participantes. “Quando uma das meninas denuncia uma situação de assédio, boa parte da comunidade oferece ajuda”, afirma Wendy Borges.
Apesar do sucesso do grupo, que conta com uma média de mais de mil publicações por dia, entre oferta e procura de produtos, e pedidos de ajuda, a estudante explica que não pensa em expandir o conceito para outras regiões. “O alcance do grupo foi bem além das minhas expectativas. Acredito que esteja bom”, avalia.
Sensação de segurança
Para a estudante e criadora de jogos em rede Sofia Sakalauskas Pretel Defino, de 20 anos, é mais fácil interagir em grupos exclusivos por conta da sensação de segurança. “Acho muito mais agradável fazer trocas em um grupo só com mulheres. Estou em comunidades virtuais mistas, mas raramente faço alguma coisa nelas, porque dá aquele medo de encontrar pessoas. Você não sabe muito bem quem anuncia”, relata.
Administradora do Desapego Feminino Guarujá, a também estudante Verônica de Brito Chaves, de 20 anos, afirma que sua intenção sempre foi criar um espaço para que as garotas pudessem tirar dúvidas sobre marcas e questões femininas, além da compra e venda, sem os problemas relacionados ao preconceito de gênero. “Podemos trocar informações femininas com mais comodidade e sem preocupação com o machismo”.
Terapia em grupo
O Empreendedoras 013 surgiu de um grupo no WhatsApp e, hoje, no Facebook, reúne cerca de 250 mulheres. A consultora de marketing digital Priscila Pereira, 39 anos, administra a página, e conta que criou o grupo para difundir o empreendedorismo feminino na Baixada Santista. “Quando você encontra mulheres que estão na mesma situação, que também estão empreendendo, têm dificuldades e não sabem qual caminho seguir, uma ajuda a outra. Diversas empreendedoras que entraram já estavam desistindo, e quando entraram, foi como se ganhassem um presente”.
Priscila também considera importante os laços de amizade que as participantes criam entre si. “Muitas abrem o coração, falam dos problemas que estão passando em casa, como está difícil, se tem como alguém ajudar. É uma terapia, porque tem dias que muitas chegam e dizem que vão parar, desistir, e o grupo conversa e ajuda. Acho que não haveria essa abertura se fosse um grupo misto de homens e mulheres”, avalia a administradora do Empreendedoras 013.
A psicóloga e coach Patricia de Almeida, de 40 anos, criou o blog Café com Empreendedorismo para Mulheres como um modo de gerar conhecimento e contribuir com o desenvolvimento profissional do seu público. “Acredito que a educação provoca crescimento, assim como sua ausência, a destruição”, afirma. Para ela, o cenário das mulheres empreendedoras significa “força, realização pessoal e crescimento em diversos sentidos”, finaliza.
(*) Reportagem desenvolvida pelos estudantes Alice Vieira, Bruna Passos, Gabriel Aguiar, Gabriel Gatto, Gabriel Ojea e Marcelo de Castro sob supervisão de Alexandre Lopes, do G1 Santos