Homossexualismo. O travesti. Opção sexual. Essas expressões podem parecer inofensivas, mas carregam décadas de desinformação que só colaboram para formular conclusões erradas sobre a sexualidade e cujo efeito imediato é a disseminação da homofobia.
(Folha de S.Paulo, 23/05/2018 – acesse no site de origem)
As versões corretas das palavras são “homossexualidade”, porque o sufixo ismo é geralmente vinculado a doença e ideologia; “a” travesti, em vez do artigo no masculino, porque a identidade é feminina; e “orientação sexual”, pelo simples fato de uma pessoa não optar por sua sexualidade, porque ela é nata.
Essas e outras expressões estão no primeiro Manual de Comunicação LGBTI+, lançado na terça-feira (22), em São Paulo, pela Aliança Nacional LGBT em parceria com a GayLatino, uma rede de associações latino-americanas que lutam pelos direitos de gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros.
Apoiado por diversas entidades ligadas à comunicação, inclusive a Federação Nacional dos Jornalistas, o guia tem como propósito desestimular nos textos e na fala o uso de termos corriqueiros que desrespeitam a dignidade humana e sugerir correções.
Editamos alguns verbetes que põem os pingos nos is desse extenso (e, é verdade, às vezes confuso) vocabulário da diversidade. Confira.
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Identidade, orientação e sexo
São três conceitos básicos para entender a diversidade. A identidade de gênero é a “forma como cada pessoa sente que ela é em relação ao gênero masculino e feminino, relembrando que nem todas as pessoas se enquadram, e nem desejam se enquadrar, na noção binária de homem/mulher, como no caso de pessoas agênero e ‘queer’, por exemplo”.
[…] Orientação é um conceito descolado da identidade, porque é a “inclinação involuntária de cada pessoa em sentir atração sexual, afetiva e emocional por indivíduos de gênero diferente, de mais de um gênero ou do mesmo gênero”. […] Por fim, “o sexo biológico é o que existe objetivamente, os órgãos, hormônios e cromossomos.”
“Queer”?
Um adjetivo utilizado por algumas pessoas, em especial mais jovens, cuja orientação sexual não é exclusivamente heterossexual. De modo geral, para as pessoas que se identificam como “queer”, os termos lésbica, gay, e bissexual são percebidos como rótulos que restringem a amplitude e a vivência da sexualidade. O termo ‘queer’ também é utilizado por alguns para descrever sua identidade e/ ou expressão de gênero. Quando a letra Q aparece ao final da sigla LGBTI+, geralmente significa queer e, às vezes, ‘questioning’ (questionamento de gêneros).”
Nem desvio, nem normalidade
“No Brasil, a homossexualidade não é considerada ‘desvio sexual’ desde 1985, pelo Conselho Federal de Medicina. É um termo ofensivo e que não deve ser usado por profissionais da comunicação, pois indica a homossexualidade como uma anomalia, algo fora de uma ideia de ‘normalidade’ heterossexual.”
[…] “Ao se tratar de sexualidade, não existe padrão de normalidade ou anormalidade. A manifestação sexual/afetiva é de caráter individual e íntimo dos indivíduos. Falar de ‘normalidade’ de uma identidade ou orientação sexual pressupõe que existe um ‘desvio da norma’ ou uma ‘anormalidade’. Portanto, é uma expressão que deve ser evitada ao referir-se aos segmentos LGBTI+, pois pode reforçar conceitos relacionados ao preconceito e discriminação.”
Ninguém muda de sexo
[…] “A readequação de sexo e gênero é muito mais ampla do que deixa entender o termo ‘mudança de sexo’, que pode reduzir a questão como apenas uma vontade de trocar de sexo. Antes das cirurgias, é realizada uma avaliação e acompanhamento ambulatorial com equipe multiprofissional, com assistência integral no processo de readequação de sexo e gênero (BRASIL, 2015b).”
Travesti não é o mesmo que transformista
Transformista é um “indivíduo que se veste com roupas do gênero oposto movido por questões artísticas (ABGLT, 2010).” […] “Uma drag queen não deixa de ser um tipo de ‘transformista’, pois o uso das roupas está ligado a questões artísticas – a diferença é que a produção necessariamente focaliza o humor, o exagero.”
Portanto, é importante separar a travesti desses dois contextos, porque ela “é a pessoa que nasceu com determinado sexo, ao qual foi atribuído culturalmente o gênero considerado correspondente pela sociedade, mas que passa a se identificar e construir nela mesma o gênero oposto”. […] “Atualmente, o termo travesti adquiriu um teor político de ressignificação de termo historicamente tido como pejorativo.”
Troque “casal homossexual” por “casal homoafetivo”
“Ao falar sobre homoafetividade ou casamento homoafetivo, o ideal é usar a expressão casal homoafetivo. A palavra homoafetiva é sinônimo de homossexual, mas ressalta a conotação emocional e afetiva envolvida na relação amorosa entre pessoas do mesmo sexo/gênero.”
“Cura gay” não existe!
O conceito é da idade média, mas como parece que não saímos dela, vale lembrar: “o Conselho Federal de Psicologia, por meio da Resolução 001/99, veda toda e qualquer tentativa de um psicólogo de ‘curar’ o paciente homo ou bissexual. Nesses casos, o profissional que infringir a resolução pode sofrer sanções, inclusive a perda do registro profissional. Também um psiquiatra ou médico pode ser denunciado ao Conselho Regional de Medicina, caso tente ‘tratar’ a homossexualidade.”
Leia o manual completo aqui