Convidada a compor a mesa de especialistas da audiência pública do STF (Supremo Tribunal Federal), a antropóloga e pesquisadora Débora Diniz vê com bons olhos o futuro da pauta “descriminalização do aborto no Brasil”.
(Universa, 05/08/2018 – acesse no site de origem)
“Ainda vemos muitos tabus e temos que conviver, diariamente, com pessoas com opiniões contrárias muito intensas. Mas, ainda assim, vejo com bons olhos essa audiência. Ela existe porque há a necessidade de falar de aborto no Brasil, por isso, acho que estamos cada vez mais perto da regulamentação”, afirma.
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Débora tem recebido ameaças de morte tanto por telefone como pelas redes sociais. À Universa, ela garante que é preciso tratar do tema com naturalidade. “Estou cuidando das ameaças na Justiça. Contudo, sei que a melhor forma de acabar com isso é por meio da conscientização. Em vez de abordar a temática com a pergunta: ‘Você é contra ou a favor do aborto?’, procure perguntar se o indivíduo é a favor de que a mulher seja presa por um aborto e qual a melhor forma de cuidar dessa mulher”, explica.
Na segunda-feira (6), a antropóloga vai lançar uma nova série no canal Cine Brasil TV. Nos episódios, que vão durar até sete minutos, mulheres vão contar histórias de aborto que fizeram há mais de oito anos. “É o tempo da prescrição do crime no Brasil”, explica Débora. “Haverá mulheres sozinhas, casais e até famílias, e minha ideia é dar rosto e voz aos números da pesquisa nacional de aborto no país”.
Durante a audiência, a pesquisadora relembrou os dados da Pesquisa Nacional do Aborto, realizada em 2016. “Uma a cada cinco mulheres de até 40 anos já abortou. Uma mulher por minuto aborta no Brasil”, afirma.
Segundo Débora, não é preciso ir muito longe para encontrar o mundo ideal. “No Uruguai, Colômbia, Cidade do México, Estados Unidos, França, Reino Unido, entre muitos outros, há oferta de aborto com medicamentos. As mulheres vão a um centro de saúde, recebem o medicamento e decidem, em casa, se vão usar. Nem precisa de médico para isso”, diz. “E, na maior parte desses países, o número de abortos realizados após a descriminalização diminuiu. É uma questão de saúde pública, e é isso que queremos que aconteça no Brasil”.
Talyta Vespa