Cuidar da saúde psicológica das vítimas é o primeiro passo para que elas consigam voltar a uma rotina normal
(O Globo, 05/04/2019 – acesse no site de origem)
Em 2018, 536 mulheres foram agredidas fisicamente por hora no Brasil. A cada minuto, três sofreram espancamento ou tentativa de estrangulamento. Os dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública evidenciam a cultura de violência que submete muitas mulheres a relacionamentos abusivos e até ao feminicídio. Uma rotina, que além das marcas físicas, deixa cicatrizes emocionais que acompanham as vítimas por toda a vida.
Além de afetar as atividades cotidianas das mulheres, o sofrimento psicológico pode impedir que elas deixem a situação de violência. A dependência emocional, a vergonha de se expor, o medo do julgamento e do olhar preconceituoso da sociedade fazem com que muitas delas não denunciem seus abusadores. A psicóloga Waléria Gonzalez, do Centro Especializado de Atendimento à Mulher (CEAM), explica que o segredo sobre o abuso é um mecanismo de defesa mental das pessoas que sofrem violência física e emocional.
– Elas não querem relembrar essas situações, então não dividem com as amigas, não têm coragem de ir até uma delegacia. São mulheres que se encontram em uma situação sensível e que lhes causa muito sofrimento. Por isso evitam se expor ao julgamento dos outros.
As consequências psicológicas da violência vão desde a quebra da autoestima até o desenvolvimento de doenças como depressão e síndrome do pânico. A psicóloga Márcia Modesto afirma que o impacto emocional da violência se estende às relações afetivas já que as vítimas de violência tendem a se isolar.
– Essas mulheres criam opressões internas, um medo de se locomover no mundo, que atrapalha a vida profissional e todas as relações. Se elas frequentam um grupo, por exemplo, se afastam por vergonha. Muitas mentem sobre a causa de hematomas e feridas. Elas vão se fechando para as outras pessoas porque se sentem acuadas e com medo das reações do companheiro/agressor.
O medo da reação dos parceiros é o que impede as mulheres de realizarem a denúncia: 50% dos casos de feminicídio ocorrem em até 90 dias após a denúncia. Segundo Rosângela Pereira, diretora do CEAM, é por isso que as medidas protetivas costumam ter este prazo de duração.
Onde procurar ajuda?
Apesar da existência das Delegacias de Especializadas de Atendimento à Mulher (DEAM), a denúncia pode ser feita em qualquer delegacia. No entanto, o que deveria ser uma facilidade evidencia o despreparo de algumas instituições para o acolhimento de vítimas que sofrem violência doméstica.
– Se a vítima fala que foi agredida ou que foi estuprada, o que ela espera é ser acolhida e receber um suporte. Quando ela chega abalada emocionalmente e perguntam sobre a roupa que usava e se ela tem certeza sobre a denúncia, muitas mulheres desistem. Isso também é uma forma de violência – explica Rosângela.
Centros especializados oferecem um primeiro adequado às vítimas de violência, com equipes interdisciplinares que incluem assistentes sociais, advogados e psicólogos. Podem também encaminhar as vítimas para uma Casa Abrigo.
Centro Especializado de Atendimento à Mulher Chiquinha Gonzaga: (21) 2517-2726
Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência: 180
Central Judiciária de Abrigamento Provisório da Mulher Vítima de Violência de Doméstica (CEJUVIDA): (21) 3133-3894
Disque Mulher: (21) 2299-2121
Delegacias Especiais de Atendimento à Mulher (DEAM): (21) 3399-3379
Naíse Domingues