(Folha de S.Paulo) Pela primeira vez, o Brasil registrou mais cesarianas do que partos normais. Em 2010, 52% dos partos no Brasil foram cirúrgicos; em hospitais privados, taxa é de 82%, na rede pública, 37%. As principais razões são: dificuldade de achar leitos em hospitais e menor remuneração para parto normal.
Dados do Ministério da Saúde mostram que em 2009 o percentual de partos cesáreos já havia se igualado ao de normais. A Organização Mundial da Saúde recomenda uma taxa em torno de 15%.
No país, o grande número de cesarianas é puxado pelo setor privado, em que cerca de 80% dos partos são cirúrgicos desde 2004. Mas é no SUS que essa taxa está aumentando: passou de 24% para 37% na década passada.
Segundo o secretário de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde, Helvécio Magalhães, está havendo uma contaminação do SUS pelo setor privado. “Entre 70% e 80% dos médicos estão nos dois sistemas e eles transportam práticas da rede particular para o SUS.”
Outro motivo que ele aponta para o crescimento é a deterioração da formação médica na década passada. “Milhares de estudantes se formam sem ter feito parto normal”, diz o secretário.
Magalhães também cita fatores econômicos e culturais para a elevação das cesáreas. A maior inserção feminina no mercado de trabalho, por exemplo, tem levado mulheres a optar pela comodidade de marcar data e horário do parto até na rede pública.
Ele diz também que o número elevado de cesáreas no setor público pode estar relacionado a problemas no pré-natal. “Se o pré-natal for malfeito, o médico só vai detectar eventuais problemas na hora do parto e pode acabar optando pela cesárea.”
Na saúde privada, há outros fatores que explicam o alto número de cesarianas. Um deles é a remuneração do obstetra e da equipe em partos normais pelos planos de saúde, considerada insuficiente pelos profissionais. “O trabalho de parto, especialmente do primeiro filho, pode durar até 12 horas. Já na cesárea, o médico escolhe o horário mais conveniente e, em uma hora e meia, já está liberado. Alguns planos até remuneram melhor o parto normal do que a cesárea, mas mesmo assim não compensa”, explica o coordenador da Câmara Técnica de Parto Normal do CFM (Conselho Federal de Medicina), José Fernando Maia Vinagre.
Outro problema é a dificuldade de encontrar leitos em maternidades quando a gestante entra em trabalho de parto; assim, fica mais fácil marcar a cirurgia com antecedência. Os custos, porém, costumam ser maiores, já que a recuperação da mãe é mais lenta e, nos casos em que o bebê nasce prematuro, são comuns as internações.
Veja também: “A polêmica em torno do excesso de cesarianas opõe a perspectiva da saúde pública à visão individual de mães e obstetras clínicos”
“Se a mulher não é devota da falácia naturalista e, por não querer sentir dor ou qualquer outra razão subjetiva, escolhe fazer a cesárea, não há razão médica ou moral para repreendê-la por isso. (…) a civilização ocidental já resolveu esse dilema há tempos, ao advogar por democracias que dão aos indivíduos o direito de tomar as decisões relevantes para a sua saúde e sexualidade.” – Excesso de cesarianas?, por Hélio Schwartsman (Folha de S.Paulo – 23/11/2011)
Leia a reportagem completa:
Cesáreas superam partos normais pela primeira vez no país (Folha de S.Paulo – 20/11/2011)
Comissão quer obstetra de plantão em hospital (Folha de S.Paulo – 20/11/2011)