Seminário “Bertha Lutz: Mulheres na Ciência” teve início nesta terça-feira (3) e segue nesta quarta (4), no Centro e Biociências da universidade, em Natal.
(G1/RN, 04/03/2020 – acesse no site de origem)
Pesquisadoras e alunos da UFRN se reuniram em um evento para discutir as dificuldades das mulheres na ciência e no meio acadêmico, bem como a presença delas na produção científica do Brasil. O “Bertha Lutz: Mulheres na Ciência” teve início nesta terça-feira (3) e segue nesta quarta (4) – em comemoração ao Dia Internacional da Mulher – no Centro e Biociências da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, em Natal.
“Ainda tem muito espaço para ser ocupado pela mulher, com certeza”, enfatiza Maria Teresa Mota, bióloga com mestrado em Psicobilogia e doutorado em Psicologia University of Reading. Ela atualmente é professora do departamento de fisiologia e comportamento da UFRN e integrou o trio de docentes que participaram do seminário.
Maria Teresa Mota chamou a atenção para as duas cientistas que, na semana passada, lideraram as pesquisas para obter o sequenciamento genético do coronavírus. “A universidade e a pesquisa são essenciais para que essas pessoas tenham espaço”.
A professora Liana Mendes, que também participou das discussões, destacou a diferença na quantidade de homens e mulheres presentes nos ambientes de pesquisa. “Praticamente todos os meus colegas que me auxiliaram durante minha vida a acadêmica são homens”, exemplifica. Liana Mendes é graduada, mestra e doutora em Ciências Biológicas, além de uma das fundadoras da ONG potiguar Oceânica. Hoje é vinculada ao Departamento de Ecologia da UFRN.
“É preciso expor. Então esse momento é muito importante, um momento que a gente está expondo todas as fragilidades, a força, as capacidades. É um momento muito oportuno, que a gente tá discutindo essa valorização, que precisa ser equalizada”, defende a pesquisadora.
Para Liana Mendes, há um “descompasso” na cobrança da produção científica de mulheres e homens no próprio meio da ciência. Segundo Liana, muitas pesquisadoras têm menos publicações e produção acadêmica porque precisam se afastar dessas atividades para se dedicar aos filhos, à família, e isso às coloca atrás dos homens no momento de, por exemplo, submeter um projeto a ser desenvolvido na universidade.
“Isso é real e tem que ser superado pelos sistemas políticos, sociais. Isso tem que ser falado, exposto. A gente não sofre preconceito por aqui, na universidade? Claro que sofre. Essa não valorização é preconceito, porque é o não reconhecimento de uma condição de mulher, de família. Se a mulher para de produzir para cuidar de um filho esse tempo é cobrado. Tem muito nó aí ainda para desatar”.
Participou também do evento a professora Fabiana Lima, bióloga, mestra e doutora em Bioquímica pela UFRN. As três docentes explanaram para os alunos e alunas a sua trajetória dentro da academia e da ciência.
A estudante Cássia Ferreira de Oliveira, da graduação de Ecologia, se disse “inspirada” pelas professoras e afirmou que considera importante levar o tema à discussão dentro da universidade. “É uma inspiração ver essas professoras, pensar ‘olha o que ela passou’. E pensar como vamos lidar com isso”.
“Esse tipo de evento, por muitos professores e alunos é tido como besteira, ou como se fosse exclusivamente para mulheres. Mas o que a gente quer discutir é ‘sobre mulheres’, não só para mulheres. Essa temática é importante de ser discutida, principalmente porque a maioria das estudantes dos cursos (Ciências Biológicas e Ecologia) é de mulheres, então elas precisam saber identificar quando estão sofrendo algum tipo de assédio. Elas precisam tomar esse lugar de fala”, complementa a universitária
Ecosin
Além das professoras, as alunas Lara Maria e Jane Larissa também ministraram palestra, representando a Empresa Júnior de Consultoria Ambiental e Prestação de Serviços dos cursos de Biologia e Ecologia da UFRN, a Ecosin.
Na empresa, a maior parte da diretoria é composta por mulheres e em nove dos dez anos de existência foram estudantes do sexo feminino que ocuparam a presidência da Ecosin.
O seminário “Bertha Lutz: Mulheres na Ciência” foi organizado pelos próprios alunos, através dos centros acadêmicos de Ecologia e de Ciências Biológicas. O nome é uma homenagem à bióloga e ativista feminista brasileira Bertha Lutz. O evento segue nesta quarta (4) e acontece no Anfiteatro Aves do CB. Ele é aberto a quem quiser ir, sob o pagamento da taxa de R$ 5.
Neste segundo dia, vão participar a bióloga Simone Gavilar, mestra e doutora em Psicobiologia, a bióloga Miriam Plaza, mestra em Ecologia & Evolução e doutora em Ecologia, a bióloga Adriana Monteiro, mestra, doutora e pós-doutora em Ecologia, além de Raquel Cordeiro, bióloga, mestra em Biociências e doutora em Genética.