O número de mulheres mortas apenas por serem mulheres no estado de São Paulo aumentou 46% em março na comparação com o mesmo mês de 2019.
(Jornal Nacional, 16/04/2020 – acesse no site de origem)
Um levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública em quatro estados revelou que houve aumento de feminicídio no mês de março. E o lugar mais perigoso é dentro de casa.
As câmeras de segurança mostram um homem com uma mala deixando o prédio onde morava. O que ele carregava era o corpo de uma mulher de 34 anos. O número de mulheres mortas por feminicídio no estado de São Paulo aumentou 46% em março na comparação com o mesmo mês de 2019: passou de 13 para 19.
No Rio Grande do Norte, em março 2019, foi registrado um feminicídio. Neste ano foram quatro. No Acre, passou de um caso para dois. Mato Grosso foi o estado que teve o maior aumento percentual: 400%. Foram dez mulheres mortas só em março.
Faz três anos que o número de registros de assassinatos de mulheres pelos parceiros cresce no Brasil. É por isso que os especialistas em segurança pública estão certos de que o isolamento domiciliar não é a causa dessa violência. Nesse momento, as mulheres que já sofrem com relacionamentos abusivos correm mais perigo porque não estão conseguindo escapar do agressor.
“O fato dessas mulheres estarem dentro de casa com seus agressores, muitas vezes sem se deslocar para ir ao trabalho, faz com que elas denunciem menos. Se antes a gente falava ‘denuncie’, ‘vá a uma delegacia de polícia’, muitas vezes agora, essa denúncia passa por pedir ajuda pelo whatsapp, pelas redes sociais e por outros aplicativos”, explica Samira Bueno, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Em São Paulo, no Rio de Janeiro e no Espírito Santo, por exemplo, já é possível fazer boletim de ocorrência pela internet. E, em todo o país, as denúncias podem ser feitas pelos números: 190 e 180.
“A culpa da violência nunca é da vítima, que essas mulheres não se sintam sozinhas, que a ordem de distanciamento social não signifique o seu isolamento. Inclusive das redes comunitárias, até de modo virtual que podem ser estabelecidas”, alerta a promotora de Justiça do Ministério Público de SP, Silvia Chakian.
Foi em uma rede social que uma professora tornou pública a agressão do marido, preso há 15 dias. Ela diz que só escapou porque os vizinhos escutaram o pedido de socorro. “Eu teria morrido. Eu não tenho nenhuma dúvida com relação a isso”, disse a vítima.