Para a representante auxiliar do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) no Brasil, Junia Quiroga, a pandemia de COVID-19 acirra as desigualdades de gênero. “Sabemos que os surtos de doenças afetam mulheres e homens de maneiras diferentes, e as pandemias tornam mais agudas as condições que determinam desigualdades desfavoráveis a mulheres e meninas.”
(ONU, 12/05/2020 – acesse no site de origem)
“Com a suspensão de serviços ou maior dificuldade de acesso de estruturas institucionais e comunitárias que protegem mulheres e meninas, medidas de proteção específicas devem ser implementadas”, disse.
A Associação Brasileira de Estudos Populacionais e o Fundo de População das Nações Unidas realizaram na quarta-feira (6) a segunda edição da série de webinários População e Desenvolvimento em Debate. Especialistas discutiram violência baseada em gênero no contexto da COVID-19.
Com o tema “Violência de gênero e a COVID-19: evidências, vigilância e atenção”, cerca de 300 pessoas acompanharam a discussão com transmissão ao vivo do canal do UNFPA Brasil no Youtube, que teve como palestrantes Jackeline Romio, demógrafa e associada a Associação Brasileira de estudos Populacionais; Jacqueline Pitanguy, socióloga e coordenadora executiva da Cidadania, Estudo, Pesquisa, Informação e Ação (CEPIA); e Julieta Palmeira, secretária estadual de políticas para as mulheres da Bahia.
O encontro também teve a apresentação e facilitação da representante auxiliar do Fundo de População das Nações Unidas no Brasil, Junia Quiroga.
Para Quiroga, este período de pandemia de COVID-19 acirra as desigualdades de gênero. “Sabemos que os surtos de doenças afetam mulheres e homens de maneiras diferentes, e as pandemias tornam mais agudas as condições que determinam desigualdades desfavoráveis a mulheres e meninas.”
“Com a suspensão de serviços ou maior dificuldade de acesso de estruturas institucionais e comunitárias que protegem mulheres e meninas, medidas de proteção específicas devem ser implementadas”, disse.
Para a socióloga Jacqueline Pitanguy, a pandemia exige medidas urgentes. “Diante deste fenômeno que se agudiza pela COVID-19, há uma demanda de ações imediatas e urgentes, porque ela tem crescido exponencialmente.”
“A luta sobre a violência contra as mulheres não se circunscreve apenas a violência física, sexual e psicológica cometidas pelos agressores, mas ela necessariamente engloba a transformação da estrutura de políticas públicas.”
A pesquisadora Jackeline Romio aponta que os desafios são ainda maiores para comunidades tradicionais em contexto da pandemia.
“A combinação de fatores relacionados a pobreza, racismo, machismo estrutural, além das desigualdades nas condições dos povos nos vários territórios indígenas e quilombolas tornam o desafio ainda mais desastroso, pois não contam com muitas políticas que possam barrar a intensidade de mortes.”
Como ação efetiva de proteção às mulheres, a secretária estadual de políticas para as mulheres da Bahia, Julieta Palmeira, propôs políticas de Estado elaboradas junto com a sociedade.
“É preciso unir governo e sociedade para enfrentar esse desafio, pois não se trata apenas de iniciativas que tenham a intenção de punir agressores, mas também para que possa proteger efetivamente as mulheres. Cada mulher que morre, é uma falha do Estado na proteção efetiva delas”, conclui Julieta Palmeira.
A cada semana, a série “População e Desenvolvimento em Debate” promovida por UNFPA e ABEP realizará discussões entre academia, governo e sociedade civil sobre temas emergentes na Agenda de População e Desenvolvimento aliado ao contexto atual. Na próxima edição, o webinário vai abordar o tema: COVID-19 e a pressão sobre o Sistema Único de Saúde (SUS).