Na América Latina e Caribe, as agricultoras familiares, camponesas e indígenas produzem 45% dos alimentos que consumimos. Aqui, algumas dessas mulheres contam dos impactos da pandemia em suas vidas e sustentos. Lembram ainda que o cenário de crise só se intensifica com o descaso do Estado, alheio as suas condições
(MarieClaire | 10/06/2020 | Por Manuela Azenha)
Quando os primeiros casos de Covid-19 foram registrados no Brasil, em março, eles se concentravam nas metrópoles, principalmente São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. Com o aumento gradual dos infectados, o vírus começou a se espalhar por outras capitais e criou uma rota de contaminação para o interior do país, o que levou, inclusive, pesquisadores da Unesp (Universidade Estadual Paulista) a elaborarem um estudo sobre a “interiorização do vírus”.
“Somente a partir do final de maio que os municípios tipicamente rurais, com cidades-sede com poucos habitantes, começaram a ser atingidos. Daqui para frente, eles serão sim mais impactados. Há agora uma preocupação do acesso que a população desses lugares terá aos serviços hospitalares para atendimento de casos mais graves que exigirão internação em UTI. Tratam-se de regiões que não possuem hospitais e terão de deslocar pacientes por ambulância até centros distantes (em alguns casos, mais de 200 km)”, prevê Raul Guimarães, professor titular do Departamento de Geografia da Unesp de Presidente Prudente.
Michela Calaça, agrônoma e dirigente do Movimento de Mulheres Camponesas (MMC), aponta possíveis riscos para a população rural: “Ao mesmo tempo em que os que ainda moram no campo ficam isolados uns dos outros e mais protegidos da Covid, essas pessoas têm que vender o que produz e comprar o que não produz. Se o Estado não dá condição disso ser feito com segurança, o risco para as famílias agricultoras é grande”.