Em São Paulo, sem ter onde deixar as crianças desde março, muitas famílias recorrem a ‘mães crecheiras’, que às vezes cuidam de 25 crianças em suas casas. Mulheres são as mais sobrecarregadas e participação feminina no mercado cai ao nível dos anos noventa. “Minha vida está um caos”
(El País | 13/12/2020 | Por Joana Oliveira e Heloísa Mendonça)
Depois de cinco anos e sete meses trabalhando na mesma loja na região central de São Paulo, Ana* (que preferiu não ter seu nome real publicado), de 27 anos, foi demitida no início de novembro. Moradora do Morro Doce, periferia da zona oeste da cidade, ela foi dispensada porque precisava cuidar da filha de dois anos, que, com as creches fechadas desde o início da pandemia de coronavírus, ficou aos cuidados de uma vizinha. “Essa moça cuida de umas 25 crianças na casa dela, mas tem horário certo para buscá-las, às 17h. Meu patrão queria que eu fizesse hora extra, expliquei que não podia por conta da minha bebê, e fui demitida”, relata Ana ao EL PAÍS. Até o início da pandemia, a cidade de São Paulo tinha cerca de 340.000 crianças matriculadas em Centros de Educação Infantil (CEI), mas a falta de vagas para atender toda a demanda da maior cidade do Brasil já era um problema para muitas famílias e um desafio para a Administração municipal ―agora agravado pela crise sanitária.