Um contexto difícil se avizinha. Governo, cada vez mais atrelado ao fundamentalismo, tenta reforçar conceito patriarcal e racista de “família” e domesticar as mulheres. Mas movimento feminista resiste e segue sendo trincheira
(Outras Palavras | 18/12/2020 | Por CFEMEA e SOS Corpo)
Mais um difícil ano que chega ao fim. De uma crise política somou-se uma crise sanitária sem igual diante da inoperância, ineficiência e da negligência proposital do governo autoritário de Bolsonaro-Mourão sobre o (não) trato da pandemia do Covid 19. Essa dupla tragédia nos assombrou durante o ano todo e os impactos na vida cotidiana de todas e todos nós pudemos sentir na ausência de um plano que acolhesse e atendesse as demandas por vida digna de boa parte da população brasileira.
Somamos quase 190 mil pessoas mortas – isso sem considerar a subnotificação – e o Brasil esteve em destaque nas notícias no mundo como um dos piores países no trato da epidemia. Fomos noticiados como um dos países que mais matou mulheres, que mais destruiu áreas ambientais, que permitiu o avanço contra a população indígena, quilombola – e ainda vetando assistência de saúde e social a essas populações para sobreviverem ao Covid 19. Acumulamos pedidos de impeachment apresentados ao Congresso Nacional (foram mais de 70), cujo destino sequer se cogitou ser apreciado pelo atual presidente da Câmara dos Deputados. A necropolítica operou sem igual sobre a população negra e periférica, sobre mulheres e ativistas. Foram inúmeras perdas de militantes e ativistas que, na ausência de políticas de assistência, deram suas vidas para distribuir cestas básicas, material de higiene e oferecer apoio e acolhimento às mulheres e crianças vítimas de violência.