(Piauí | 18/02/2021 | Felippe Aníbal)
No banco do passageiro do carro dirigido pelo marido, Cleonice de Paula Proença só pensava em chegar logo à delegacia de Fazenda Rio Grande, na região metropolitana de Curitiba, na manhã de 3 de janeiro. Minutos antes, tinha recebido uma mensagem do delegado pedindo que fosse encontrá-lo. A angústia de Cleonice se arrastava por treze dias: desde 21 de dezembro, procurava pela filha, Ana Paula Proença, de 25 anos, desaparecida. No meio do caminho, Cleonice recebeu uma ligação de um repórter de um programa policialesco de tevê, que lhe trouxe a má notícia: Ana Paula estava morta. Tinha sido enterrada em uma cova rasa, em uma espécie de oficina improvisada, no quintal da casa em que morava. O marido dela confessara o crime.
O caso de Ana Paula Proença segue um padrão revelado por um estudo recém-publicado pelo Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR) analisando trezentos processos relacionados a feminicídio em tramitação no estado desde março de 2015 – quando essa categoria jurídica passou a constar do Código Penal como qualificadora em homicídios cometidos contra mulheres, em razão de serem mulheres. Em 87% dos processos (248 casos), os réus são homens que mantinham ou mantiveram relação amorosa com as vítimas. São maridos, ex-maridos, companheiros, ex-companheiros, namorados e ex-namorados. Em segundo lugar, em 26 casos (9%), os homicidas eram parentes das vítimas, em diversos graus.