(Folha de S. Paulo| 03/05/2021 | Por Fernanda Brigatti | Acesse a matéria no site de origem.)
Terezinha Francisco Tavares, 52, trabalhava há 13 anos para uma família em São Paulo quando a pandemia começou, em março do ano passado. Em outra casa, prestava serviços há nove.
Em ambas, a facilidade dessas dispensas evidenciam a fragilidade dos vínculos. “Todo esse tempo de trabalho e saí com a diária do dia e mais nada. Todo o mundo tem um motivo. Teve que ajudar outras pessoas da família ou levou alguém para morar em casa, mas quem é mais prejudicado somos nós”, diz.
Dos trabalhos que mantinha no pré-pandemia, Terezinha ainda vai eventualmente a uma outra residência, onde já completa 18 anos limpando e arrumando. “Mas ela [a empregadora] também ficou desempregada, então não vou sempre. Uma vez por mês eu vou dar uma ajuda. Mas é assim, a gente sabe que a corda sempre estoura no lado mais fraco.”
Uma vez dispensadas, essas trabalhadoras não recebem férias ou 13º salário, também não acessam o seguro-desemprego ou o FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço). Em pouco mais de um ano de pandemia, 95% dessas mulheres relataram ter visto a renda diminuir.
Quase nove em dez disseram ter perdido algum posto de trabalho. Segundo o De Olho na Quebrada, 47% trabalhavam em apenas uma casa, enquanto 24% iam em duas, e 14%, em três.
Mais da metade (52%) relatou não ter mais nenhuma renda. Na casa de Rosimeire Ferreira da Silva, 49, a ordem é de economia total. Aparelhos eletrônicos ficam fora da tomada quando não estão sendo usados. “Até o tanquinho [para lavar roupas] eu deixo só para coisas mais pesadas e o resto lavo na mão”, diz.
No início da pandemia, a pessoa para quem Rosimeire trabalhava a cada 15 dias recomendou que ela ficasse em casa até que a situação melhorasse. Não melhorou, e a antiga empregadora também não a chamou de volta. “A gente vai levando como pode. Meu marido é ajudante de pedreiro e, para ele, tem pelo menos aparecido trabalho aqui e ali.”
Com a renda encolhida, Rosimeire teve que cortar hábitos como fazer a feira semanal e tem buscado ajuda, como a cesta básica doada pela Unas.