17/07/2013 – Recurso questiona apuração de ‘trote racista’ na UFMG e cobra punição

17 de julho, 2013

(G1) Um recurso assinado por professores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) questiona a investigação de um trote que gerou polêmica após fotos na internet denunciarem menções nazista e racista. A recepção de calouros ocorreu no dia 15 de março deste ano e, em 3 de julho, um processo administrativo disciplinar foi aberto contra 198 alunos. O grupo de docentes pede a anulação da portaria que determina a investigação por considerar que ela ignora a ocorrência de “nazismo, machismo e racismo” durante uma festa na Faculdade de Direito.

A portaria também não identifica responsabilidades. “Pedimos a anulação da portaria porque ela inclui 198 alunos indistintamente e descumpre a finalidade de investigar o nazismo, o machismo e o racismo”, afirma a professora Marlise Matos, coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher, da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. Segundo ela, o recurso foi apresentado na segunda-feira (15).

Em uma das fotos postadas na internet, uma jovem aparece pintada de preto e tem uma placa de papel pendurada no pescoço com a frase “caloura Chica da Silva”, as mãos dela estão acorrentadas e um rapaz segura essa corrente. Na outra imagem, três jovens, um deles com um pequeno bigode, fazem um gesto típico dos nazistas – a mão esticada para frente – ao lado de um rapaz amarrado a uma pilastra.

A demora na apuração também é questionada. Antes do processo administrativo, uma sindicância foi aberta. “Pela portaria, a sindicância comprovou apenas a venda de bebida alcoólica em uma festa com trote. Já houve tempo suficiente para estabelecer de maneira correta o grau de punição a quem merecer”, disse Marlise. A professora afirma que já ocorreram outros trotes com “menção racista, nazista e preconceituosa” e cobra uma resposta da universidade.

“Não é uma perseguição contra os alunos do direito. Como houve um desvio de conduta, é necessário que a universidade responda. Não pode ocorrer um silenciamento diante dos fatos”, afirma a representante dos professores que assinam o recurso.

Outra reivindicação é que a investigação seja assumida pelo Conselho Universitário da UFMG, que é uma instância máxima de deliberação e é composto por docentes, universitários, técnicos e presidido pelo reitor. Até o momento, a investigação é conduzida pela Faculdade de Direito.

Segundo a professora, também assinam o recurso os docentes Leonardo Castriota, de Arquitetura; Regina Helena Alves, de História, e Cláudia Mayorga, de Psicologia. Marlise explica que outros docentes estão de acordo com o grupo e que não houve outras assinaturas porque a portaria foi publicada durante as férias acadêmicas.

A UFMG confirmou o recebimento de um recurso, mas não quis divulgar o conteúdo, e informou que o documento será analisado nos próximos dias. A universidade ainda não comentou os questionamentos dos professores que assinam o recurso.

Processo administrativo
A diretoria da faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais abriu processo administrativo disciplinar contra 198 estudantes, cujos nomes passam a constar em investigação sobre um trote ocorrido em 15 março deste ano. Uma portaria de 3 de julho determina a criação de uma comissão, que terá 60 dias para concluir a apuração e publicar um relatório.

Os estudantes podem ser penalizados com advertência, suspensão ou até desligamento da universidade. A punição varia conforme a gravidade e o entendimento da comissão investigadora. “A sindicância apurou o fato, mas não as responsabilidades. O proceso vai individualizar as responsabilidades, dando direito de defesa”, disse o vice-diretor da Faculdade de Direito, Fernando Gonzaga Jayme, em entrevista no dia 10 de julho. Segundo o vice-diretor, a sindicância constatou a transgressão de normas acadêmicas, como as que proíbem o trote e a distribuição de bebida alcoólica dentro da unidade, mas não traz conclusões sobre prática nazista ou racista.

Segundo a portaria, há três grupos no total de investigados: alunos do 2º período da Faculdade de Direito da UFMG, os quais teriam praticado o trote; membros da Diretoria do Centro Acadêmico Afonso Pena, que teriam distribuído bebidas; e alunos do 1º período de direito, que teriam contribuído financeiramente e participado do trote.

Acesse o PDF: Recurso questiona apuração de ‘trote racista’ na UFMG e cobra punição (G1 – 17/07/2013)    

 

 

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