Consolidação de votos em Dilma Rousseff chega a 72% entre mulheres, por Fátima Pacheco Jordão

22 de setembro, 2010

A dez dias do 1º turno das eleições, as últimas pesquisas apontam que há 30% de eleitores indefinidos –um contingente de 42 milhões de brasileiros, 60% dos quais são mulheres. Como previsto, o horário eleitoral gratuito na televisão vem ajudando os eleitores, sobretudo as eleitoras, a definir melhor suas escolhas.

De fato, antes do início da propaganda gratuita no rádio e na TV, 63% dos homens já estavam com seus votos consolidados, contra 48% das mulheres. A ocupação dessas mídias pelas campanhas resultou em maior consolidação de ambos os segmentos: hoje, 78% dos homens têm seus votos mais definidos, contra 68% das mulheres. 


DILMA LIDERA EM FAVORITISMO E VOTOS CONSOLIDADOS

A comunicação eleitoral da candidata Dilma Rousseff (PT) mostrou-se mais eficaz e mais bem avaliada pelos eleitores em geral, daí a maior consolidação de seus votos, desdobrando-se em uma grande vantagem na percepção de seu favoritismo nesta eleição (Gráfico 1). Estes dois fatores explicam por que a candidata tem mantido a intenção de voto agregada, apesar do intenso noticiário sobre denúncias de violação de sigilos fiscais de tucanos e da demissão da ministra Erenice Guerra, da Casa Civil, por suspeita de tráfico de influência.

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Gráfico 1 – Pesquisa Datafolha de 13-15 de setembro de 2010.
* Proporção de votos espontâneos/estimulados.


PERFIL DE IMAGEM: DILMA CRESCE EM TODOS OS ATRIBUTOS

Nessa linha de consolidação e resistência da candidatura de Dilma Rousseff, é importante observar uma grande mudança do perfil de atributos positivos dos candidatos, antes e depois da comunicação por rádio e televisão. Considerando-se a média de dez atributos claramente positivos nas pesquisas Datafolha de maio e agosto, Dilma cresceu em todos eles, passando da média de 26% para 36%, enquanto José Serra (PSDB) caiu em todos eles, saindo da média de 38% para 33%.

Em agosto, Dilma passou a superar Serra em atributos-chave como: “capacidade de manter a estabilidade econômica”, “mais preparada para combater o desemprego” e “mais preparada para ser presidente”.

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Gráfico 2 – Pesquisas Datafolha de 20-21 de maio e 23-24 de agosto de 2010.
Reprocessamento inédito por sexo realizado com exclusividade para o Instituto Patrícia Galvão.

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Gráfico 3 – Pesquisas Datafolha de 20-21 de maio e 23-24 de agosto de 2010.
Reprocessamento inédito por sexo realizado com exclusividade para o Instituto Patrícia Galvão.


QUADRO PERMANECE ESTÁVEL E INDICA POSSIBILIDADE DE A ELEIÇÃO PRESIDENCIAL SER DEFINIDA NO 1º TURNO

Na contagem de votos válidos (descontando-se os indefinidos), os índices de Dilma Rousseff projetam, desde o início da campanha de massa (debates e entrevistas, além da propaganda do TSE), uma vitória no 1º turno. Em outras palavras, as diferenças entre os eleitorados masculino e feminino sinalizam na mesma direção, com a mesma intensidade.

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Gráfico 4 – Votos válidos. Pesquisas Datafolha e Ibope de 2010.
Reprocessamento inédito por sexo realizado com exclusividade para o Instituto Patrícia Galvão.

Todos os indicadores –consolidação de votos, estabilidades de índice de votos válidos, eficácia da comunicação e melhora no perfil de atributos positivos– apontam para uma definição da eleição já em 3 de outubro, no 1º turno.


CABEÇA DO ELEITORADO

Parte dos eleitores, no entanto, foi atingida pelo fogo cruzado da campanha, o que levou a uma desestabilização em alguns segmentos. As pequenas oscilações se deram entre mulheres, segmentos mais escolarizados e eleitores mais informados sobre as denúncias. No Rio de Janeiro o quadro chega a desenhar uma nova configuração, com empate técnico entre José Serra e Marina Silva (Datafolha Rio: Dilma 48%, Serra 20% e Marina 17%).

Nestes dez dias que faltam para a eleição teremos, provavelmente, um esquentamento do clima da campanha e mais três debates entre candidatos. Há uma possibilidade de instabilidade no ambiente. Vale a pena, por isso, relembrar os momentos finais da campanha presidencial de 2006.

A eleição de 2010 acontece em um cenário político e econômico bem distinto do de 2006, quando a eleição foi turvada pelo “escândalo do mensalão de 2005”, cujo impacto político foi de grande alcance, atingindo não só a credibilidade do governo, como a do PT. Na reta final da campanha de reeleição do presidente Lula, em 2006, o “escândalo dos aloprados” reacendeu sentimentos negativos originados com o mensalão, levando a disputa para o 2º turno.

Do ponto de vista econômico, o cenário de 2010 é bem mais positivo e os eleitores enxergam uma perspectiva de futuro mais promissor que em 2006. Ao que tudo indica, a aposta que os eleitores fizeram no governo do PT em 2006 foi bem-sucedida, mesmo que politicamente conturbada, e, portanto, a aposta na continuidade em 2010 parece mais consistente.

Cabe ressaltar um aspecto definidor: as duas eleições são travadas pela mesma bandeira, a da continuidade ou não do governo do PT. A diferença é que, em 2006, a avaliação positiva do governo era de 48% (45% das mulheres e 50% dos homens); hoje, os indicadores são muito mais positivos: 78% (76% das mulheres e 79% dos homens).


ESTÁ NAS MÃOS DAS MULHERES –MAIS DO QUE NAS DOS HOMENS– PERMITIR OU NÃO A REALIZAÇÃO DE UM 2º TURNO

Comparando-se o contexto atual com o de 2006, os indicadores eminentemente eleitorais são muito parecidos, embora, como vimos, o cenário seja bem diferente. O período de dez dias até a eleição é bastante curto; no entanto, nestes dez dias assistiremos a três novos e importantes debates na TV e, provavelmente, à intensificação de cobranças e ataques à candidata Dilma Rousseff. Se houver espaço para um 2º turno, as mulheres serão as primeiras a sinalizar. Mas, até o momento, as mudanças de intenção de voto do conjunto do eleitorado não são muito perceptíveis.

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Gráfico 5 – Pesquisas Datafolha de 19 de setembro de 2006 e 13-15 de setembro de 2010.
Reprocessamento inédito por sexo realizado com exclusividade para o Instituto Patrícia Galvão.

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Gráfico 6 – Pesquisas Datafolha de 19 de setembro de 2006 e 13-15 de setembro de 2010.
Reprocessamento inédito por sexo realizado com exclusividade para o Instituto Patrícia Galvão.

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Gráfico 7 – Pesquisas Datafolha de 19 de setembro de 2006 e 13-15 de setembro de 2010.
* Proporção de votos espontâneos/estimulados.
Reprocessamento inédito por sexo realizado com exclusividade para o Instituto Patrícia Galvão.


Análise realizada a partir de reprocessamento inédito das pesquisas sobre intenção de voto do Datafolha. A produção de tabulações especiais foi realizada pelo Datafolha com exclusividade para o Instituto Patrícia Galvão, aplicando um filtro por gênero para separar os dados de homens e mulheres para todos os segmentos da amostra.

Este documento foi elaborado no contexto do Projeto Mulheres em Espaços de Poder do Instituto Patrícia Galvão, que tem o objetivo de analisar a percepção das mulheres enquanto eleitoras, com base nos levantamentos sobre intenção de voto realizados por institutos de pesquisa de opinião.

Colaboraram as pesquisadoras Ana Carla de Sá e Paula Cabrini (Perfil Urbano) e as jornalistas Marisa Sanematsu e Jacira Melo (Instituto Patrícia Galvão).

Acesse o artigo em pdf
: Consolidação de votos em Dilma Rousseff chega a 72% entre mulheres, por Fátima Pacheco Jordão

Leia também os artigos anteriores desta série:
Mulheres e campanha na TV desenham vitória de Dilma Rousseff no 1º turno, por Fátima Pacheco Jordão (27/08/2010)
Com TV, mulheres põem Dilma mais perto da vitória no primeiro turno, por Fátima Pacheco Jordão (24/08/2010)
O voto das mulheres pesa para crescimento de Dilma e queda de Serrra, por Fátima Pacheco Jordão (06/08/2010)
Homens e mulheres têm visões diferentes do processo eleitoral, por Fátima Pacheco Jordão (22/07/2010)
O poder do voto feminino, por Fátima Pacheco Jordão (21/06/2010)

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Sobre a autora: Fátima Pacheco Jordão é socióloga e especialista em pesquisas de opinião. É assessora de pesquisa da TV Cultura e diretora do Instituto Patrícia Galvão.

Contato:
TV Cultura e Instituto Patrícia Galvão
São Paulo/SP
(11) 3826-7651 / 9423-9402 – [email protected]
Fala sobre: mídia; estratégias de comunicação; pesquisas de opinião


Indicação de fontes:

Céli Pinto – cientista política e pesquisadora
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UFRGS
51 3308-6640 / 3383-1412 – [email protected]
Fala sobre: política; paticipação das mulheres na política

Clara Araújo – socióloga e pesquisadora
Departamento de Ciências Sociais da UERJ
Rio de Janeiro/RJ
(21) 2587-7678 – [email protected]
Fala sobre: participação das mulheres na política

José Eustáquio Diniz Alves – demógrafo e pesquisador
Professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais
da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE
Rio de Janeiro/RJ
(21) 214246 89 / 9966 6432 – [email protected]
Fala sobre: política, poder e a baixa representação das mulheres nos espaços de decisão; pesquisas e dados sobre essa realidade em outros países
 

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