3 razões pelas quais é preciso ter mais LGBTs na política brasileira, por Diêgo Lobo

27 de setembro, 2018

O Brasil é o país que mais mata LGBT+ no mundo. A cada 19 horas uma lésbica, gay, bissexual, trans ou travesti morre no país por causa de sua orientação sexual ou gênero.

(HuffPost Brasil, 27/09/2018 – acesse no site de origem)

Impulsionados pela brilhante mobilização das mulheres, a comunidade LGBT+também está engajada na luta contra o fascismo nestas eleições. O grupo “Mulheres Contra Bolsonaro” no Facebook cresce a cada dia e chega a quase meio milhão de participantes. Agora, é hora de aproveitar essa onda progressista e votar em candidaturas de lésbicas, gays, bis, transexuais, travestis ou pessoas que estejam minimamente comprometidas em avançar os nossos direitos.

Não custa lembrar que se hoje, LGBTs podem casar ou adotar e, mais recentemente, se mais de 6 mil trans e travestis poderão usar o nome social pela primeira vez para votar, não é por intermédio de políticos que elegemos. Essas vitórias são fruto do trabalho de organizações sociais e ativistas que acionaram o judiciário e venceram. Mas se quisermos mais vitórias, precisamos de mais LGBTs na política do País.

O Brasil é o País que mais mata LGBTs

Dandara dos Santos foi espancada e morta em março de 2017. (Foto: Arquivo Pessoal)

Humilhada, espancada e morta. O assassinato da travesti Dandara dos Santos, em Fortaleza, chocou o Brasil. Um vídeo que viralizou nas redes sociais mostrava Dandara no chão, sendo torturada e xingada. Mais de um ano depois, cinco dos assassinos foram condenados, com 14 a 21 anos de prisão. Na notícia que divulgava as sentenças, ainda se lê o comentário: “14 anos por ter xingado um veado aff!”.

O Brasil é o país que mais mata LGBT+ no mundo. A cada 19 horas uma lésbica, gay, bissexual, trans ou travesti morre no país por causa de sua orientação sexual ou gênero. Segundo o Grupo Gay da Bahia (GGB), 445 pessoas LGBT+ morreram no Brasil em 2017 vítimas da LGBTfobia, sendo 387 assassinatos e 58 suicídios – um aumento de 30% em relação a 2016. Dessas pessoas, 12 eram, na verdade, heterossexuais que foram confundidos com gays ou lésbicas, ou que defenderam algum LGBT+. O GGB afirma que nunca antes na história desse país registraram-se tantas mortes, desde que o grupo começou a coletar e divulgar os relatórios anuais há 38 anos. O relatório afirma ainda que esse número é maior do que em 13 países do Oriente e da África juntos, lugares onde a homossexualidade é punida com pena de morte.

Apesar disso, propostas de lei que tipificam este tipo de crime seguem em tramitação no Congresso, sem perspectivas de avanços.

Esta triste realidade só mudará quando a tolerância fizer parte dos currículos escolares e quando os crimes de ódio por questões de gênero e orientação sexual forem puníveis com a severidade que merecem. Em junho deste ano, o #VoteLGBT perguntou a participantes da Parada de Orgulho LGBT de SP sobre as pautas prioritárias para a luta do movimento hoje. O ensino do respeito a nossa população nas escolas e a criminalização da LGBTfobia foram os dois temas mais citados, com 61% e 60% dos votos. Apesar disso, propostas de lei que tipificam este tipo de crime seguem em tramitação no Congresso, sem perspectivas de avanços.

Somos muitxs, mas não somos representados

Apenas 1 dos 594 parlamentares no Congresso Nacional (513 deputados/as e 81 senadores/as) é declaradamente homossexual. (Foto: Lightrocket via Getty Images)

É difícil estimar o número de pessoas LGBT+ num País como o Brasil, que não oferece segurança a nossa população e onde estigma e tabu ainda são altamente enraizados na sociedade. Há estimativas, porém, de que somos pelo menos 10% da população. Ainda assim, apenas 1 dos 594 parlamentares no Congresso Nacional (513 deputados/as e 81 senadores/as) é declaradamente homossexual. Ou seja, os interesses de mais de 20 milhões de LGBTs são representados por apenas um candidato. Por isso, não é surpresa nenhuma que pautas pró-direito da nossa comunidade, e de outras minorias, não avancem nessa que é a formação mais conservadora do Congresso desde a redemocratização do país.

Com 10,5% de mulheres na Câmara, o Brasil ocupa a 152ª posição no ranking de 193 países. É o pior país da América do Sul, ficando atrás, inclusive, de países mais conservadores como a Arábia Saudita.

Infelizmente, não somos os únicos poucos representados ali. Um levantamento recente da União Interparlamentar Internacional lançou luz sobre a trágica realidade na representatividade feminina na política brasileira: com 10,5% de mulheres na Câmara, o Brasil ocupa a 152ª posição no ranking de 193 países. É o pior país da América do Sul, ficando atrás, inclusive, de países mais conservadores como a Arábia Saudita, onde as mulheres só consigaram o direito de dirigir em junho deste ano, após muita luta. A representatividade de negros e pardos é de 20%, embora constituam 54% da população. Sem falar de povos tradicionais e indígenas, que não têm nenhuma.

É por essa razão que precisamos trazer para o centro do nosso debate político a função do legislativo e o quanto as decisões tomadas por este grupo afetam o nosso cotidiano e as nossas vidas.

Só um LGBT sabe a dor que passa

“Ninguém, além de nós, sabe o que é ter medo de demonstrar carinho em público.” (Foto: Nurphoto via Getty Images)

Circula na internet uma imagem que mostra um casal de mãos dadas, que rapidamente se desvencilha com a aproximação de uma pessoa estranha. Não consigo contar quantas vezes isso aconteceu comigo. Ninguém, além de nós, sabe o que é ter medo de demonstrar carinho em público; de ser agredido, xingado ou mesmo receber aquela olhada de canto de olho. Passamos a nossa adolescência, e alguns boa parte da vida adulta, com receio de sermos “descobertos” por um ato falho. Por medo de rejeição, fingimos ser quem não somos e vivemos uma vida dupla, na eterna aflição do armário. E isso sem falar nos desafios de trans e travestis que não são entendidos pela sociedade e muitas vezes são tratados como doentes. A lista é muito mais longa do que conseguimos contar neste texto, mas em resumo: só um LGBT pode entender as frustrações a que estamos submetidos e as violações que sofremos.

Somos muitxs e já passou da hora de nos juntarmos enquanto comunidade para combater a LGBTfobia.

Na mesma pesquisa do #VoteLGBT nas paradas, cerca de 80% de participantes em São Paulo e 75% em Belo Horizonte, disseram que os políticos que temos não representam os interesses da população LGBT+, e quase metade disseram que estão buscando por novas candidaturas. A boa notícia é que 92% das participantes da Caminhada de Lésbicas e Bisssexuais de SP e 71% de participantes da Parada de SP disseram que preferem votar em LGBT+ para deputado federal em 2018.

Bichas, sapas, homens e mulheres trans, travestis, bissexuais e todas as pessoas que não se encaixam nessas definições: somos muitxs e já passou da hora de nos juntarmos enquanto comunidade para combater a LGBTfobia e eleger representantes que se importem com os nossos interesses. Por isso, nestas eleições, busquemos candidaturas LGBT+ e votemos em quem realmente nos representa.

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