Ministra pediu união para transformar Brasil “no melhor país do mundo para ser mulher”
(Correio do Povo, 10/04/2019 – acesse no site de origem)
A ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, repudiou nesta quarta-feira a violência contra a mulher e afirmou que é possível “transformar essa nação no melhor país do mundo para ser mulher”. “Somos o quinto país do mundo que mais mata mulheres. Não podemos mais aceitar essa marca. Temos como objetivo mudar essa história. Gostaríamos muito que algumas nações olhassem e perguntassem ’como ele conseguiram? Naquela nação, uma mulher era estuprada a cada 11 minutos, e cada sete minutos uma sofria violência. O que aconteceu com aquela nação?’”, disse a ministra durante a Marcha a Brasília em Defesa dos Municípios.
Para mudar este cenário, argumentou, é necessária uma integração de políticas em nível municipal e federal. “Uma geração vai ter que se levantar para fazer o enfrentamento dessa questão. Me permitam desafiar a nossa geração a fazer isso. Acredito muito na força do movimento municipalista. A grande revolução vai nascer nos municípios. Prefeitos, prefeitas, deputados, senadores, poder Executivo e Legislativo têm que se unir para dizer basta de violência contra a mulher”, avaliou.
Damares classificou como vergonhosa a nomeação do Brasil como o pior país da América do Sul para criar meninas. “Nunca nossas meninas foram tão abusadas como hoje. Esta falando aqui uma menina que foi abusada. Sei o que é estar no colo de um abusador quando criança. Sei que eles não só destroem o corpo. Destroem o futuro, a alma”, relembrou em tom emotivo. Também comentou que seu trabalho é difícil, pois requer ouvir denúncias do Disque 100, algumas das quais trazem relatos de abuso contra crianças recém-nascidas.
“Vocês não imaginam o que essa ministra tem que ver e ouvir todos os dias. É muito pior do que vocês podem imaginar. Como defensora da infância, por anos militei por isso, e participei da CPI da Pedofilia. Vi o que não queria. Assisti a um pai fervendo água e colocando a mão do filho dentro porque ele não quis comer iogurte”, relatou, lembrando também casos de abuso de crianças com deficiência.
Outro desafio que o governo tem, segundo a ministra, é o de buscar mulheres que estão invisíveis. “Falo das ciganas, que passam pelas cidades e às vezes não são percebidas. Temos 1,2 milhão no Brasil. Onde estão essas mulheres que as politicas públicas não chegam até elas? Temos as indígenas, mulheres que estão abandonadas, sofrendo. Precisam ser alcançadas, empoderadas e fortalecidas. Queremos fazer um apelo por elas”, disse. Nesse sentido, lembrou que muitos municípios não têm representantes femininas nos poderes.
Damares então lançou o desafio de que todas as cidades tenham no mínimo uma única mulher entre seus eleitos. “Vamos fazer essa parceria e ir em caravana para tudo que é cidade para cobrar isso. A mulher brasileira é diferente, é valente. É hora de grandes mudanças na nação. Os homens são muito importantes nesse processo, mas nós somos extraordinariamente importantes. Eu acredito no poder das mulheres na politica, no governo. Liderando e desenvolvendo políticas públicas”, concluiu.
Prefeita cobra ações
Antes de Damares, a prefeita de Tarauacá, cidade a cerca de 420km de Rio Branco, no Acre, encravada no coração da mata amazônica, havia confrontado a ministra sobre as políticas para a questão da violência contra a mulher. Marilete Vitorino citou dados do Fórum brasileiro de segurança pública, evidenciando que, em 2018, 536 mulheres foram vítimas de agressão física a cada hora somente no ano passado. Número expressivo e que pode ser maior uma vez. Ela lembrou que 80% de políticas públicas para mulheres são aplicadas apenas nas capitais, como a obrigatoriedade do Estado em instaurar uma delegacia da defesa da mulher.
“Como esse novo ministro pretende desenvolver política para as mulheres que sejam universais e que atendam todas? Como pretende combater a violência nos espaços públicos e privados, sendo que, de acordo com o mesmo estudo, 76,4% dos agressores eram conhecidos pela vítima? O que vai fazer pelo rompimento de relacionamento abusivos no âmbito doméstico porque as mulheres precisam de apoio específico?”, indagou. Ao se referir aos questionamentos, Damares disse que muitas horas seriam necessárias par respondê-los e se resumiu a dizer: “sim, sim, sim, sim, sim, vamos fazer”.
Eric Raupp