Por falta de estimulo à liderança, elas são mais inseguras
(Universa, 11/10/2019 – acesse no site de origem)
Hoje é Dia Internacional da Menina. Ao redor do mundo, a questão que se discute é: como é ser menina em 2019? Afinal, passar pela infância pertencendo a uma geração tão conectada quanto a dos tempos atuais tem suas particularidades. Na opinião de Déborah de Mari, pesquisadora nas áreas de gênero e liderança, há pontos positivos e negativos. “Existe uma abertura maior para discutir assuntos importantes, como o feminismo, em comparação com as demais gerações”, aponta.
Ao mesmo tempo, surgem novos desafios relacionados à saúde mental. “A hiperconexão aumenta o engajamento por causas, mas também ajuda na criação de padrões de imagem. Desde cedo se fala na construção de uma marca pessoal — característica muito enfatizada pelos influenciadores digitais. Esse fator aumenta a pressão pela montagem de uma persona digital. Há quem queira parecer descolada, há quem sinta a necessidade de demonstrar que está de bem com a vida desde nova. Mas nem sempre a realidade é tão bonita e fantasiosa”, diz.
Medo de julgamento
Déborah, que também é sócia-fundadora e presidente do Força Meninas, uma plataforma para estimular a liderança feminina na infância e adolescência, chama atenção para outra característica das garotas desta geração: o medo do julgamento. “Durante uma atividade que fizemos, 88% das meninas participantes responderam que não expressam sua opinião por receio do que as outras pessoas podem pensar”, explica.
O dado se cruza com o de uma pesquisa mais ampla. O estudo de Harvard “Leaning Out – Teen Girls and Leadership Biases”, publicado em 2015, mostrou que apenas 8% das meninas preferem as mulheres ocupando cargos de lideranças políticos. 23% delas acreditam que os homens exercem melhor estas funções — e o restante não têm preferência por gênero.
Entre os motivos elencados pelo estudo para as mulheres não apoiarem umas às outras quando o assunto são posições de destaque estão: a crença de que mulheres são muito “dramáticas” para assumirem responsabilidades e, principalmente, baixa autoestima — ambos diretamente relacionados com a imagem pública das mulheres.
Uma questão de gênero
Na opinião de Déborah, a preocupação excessiva com a imagem atinge principalmente as crianças e adolescentes do sexo feminino. “Os rapazes podem enfrentar outras inseguranças, como a de não corresponder a um estereótipo esperado para o gênero, mas não sofrem tanto para expressar suas opiniões quanto elas”, garante. Isso porque socialmente, são mais estimulados para alcançar posições de sucesso.
“Já as meninas desde cedo têm suas referências limitadas. Enquanto garotos brincam com carrinhos, helicópteros e peças para simular a construção de pontes e edifícios, grande parte dos objetos direcionados às meninas tem relação com cuidados com a casa e a família”, relembra.
Estímulo à liderança
Na visão da especialista, a mudança de cenário deve ser estimulada pela escola e pelos pais. “Sempre sugiro para as famílias que observem suas meninas e vejam as causas que mais fazem seus olhos brilharem. Às vezes, uma criança se incomoda com situações de injustiça, em outras se preocupa com animais ou com o meio ambiente. Em todas elas, vale a pena estimular que se engaje mais com a causa, reflita sobre ela e proponha soluções”, ressalta.
Estimulando o papel de liderança feminino, o Força Meninas promove em parceria com o Banco Original o prêmio “Mude o Mundo Como uma Menina”, que vai homenagear pela primeira vez cinco jovens nas categorias: Pioneira, Líder, Visionária, Criativa e Determinada. O prêmio será anunciado durante a terceira edição do evento “Mude o Mundo Como uma Menina”, que acontece hoje no Unibes Cultural (Rua Oscar Freire, 2500), em São Paulo (SP). Lá, 200 meninas participam de palestras e oficinas imersivas associadas às temáticas das premiações.
Por Ana Bardella