Elas somam 58% dos bolsistas da Capes, mas só 7% integram a mais alta instância entre os acadêmicos
A física Márcia Barbosa, professora titular do Instituto de Física da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), estava em uma discussão acalorada com um colega estrangeiro durante uma imersão de pesquisadores em um evento na Califórnia, nos Estados Unidos.
Eles debatiam a aglomeração das suspensões coloidais, que contêm tanto moléculas grandes quanto partículas pequenas, e estão presentes no cotidiano da humanidade –desde a produção do desodorante spray e das fraldas até o processo de emulsão em que são fabricados a maionese ou o chantili.
Em determinado momento, as argumentações de Márcia convenceram a maior parte da plateia de pesquisadores. O oponente procurou justificar a derrota: “Não ganhei o debate porque você me distraiu com seu perfume.”
“Não era um amigo, era um ilustre desconhecido, que conseguiu reunir em uma única frase um exemplo de assédio moral e assédio sexual”, diz ela, 62, especialista em mecânica estatística, membro titular da ABC (Academia Brasileira de Ciências), membro da Academia Mundial de Ciências, que em 2020 foi eleita pela revista Forbes como uma das 20 mulheres mais influentes no Brasil e mencionada pela ONU Mulheres (braço das Nações Unidas para a promoção da Igualdade de Gênero) como uma das sete cientistas que moldam o mundo.
“Se eu fosse um homem, não teria ouvido este comentário.”
Na opinião de Márcia, o cientista menosprezou o seu conhecimento e a sua formação pelo simples fato dela ser uma mulher, numa clara manifestação de “misoginia”, diz. “Para uma mulher conquistar espaço no mundo científico, como em qualquer outro lugar, ela precisa provar muito mais o seu valor do que um homem.”
Dados da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) provam que existe uma barreira invisível para o avanço das cientistas no mercado de trabalho. As mulheres estão em apenas 3 de cada 10 ocupações em ciência, tecnologia, engenharia e matemática no Brasil, embora representem 44% da força de trabalho no país (segundo dados de 2020 da Relação Anual de Informações Sociais –Rais).
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