Senado argentino rejeita legalização do aborto

09 de agosto, 2018

Após mais de 15 horas de debate, projeto foi recusado por 38 votos contra, 31 a favor e duas abstenções

(O Globo, 09/08/2018 – acesse no site de origem)

Faltando quinze minutos para as 3h da manhã e com oito graus de temperatura nas ruas de Buenos Aires, o Senado argentino rechaçou, após mais de 15 horas de debate, o projeto de legalização do aborto, por 38 votos contra, 31 a favor e duas abstenções. O resultado provocou euforia entre os milhares de militantes antiaborto que acompanharam os discursos dos senadores do lado de fora do Parlamento. Já os defensores do projeto, que ocuparam um dos lados da Praça do Congresso, reagiram com clara indignação por uma derrota que os obrigará a esperar pelo menos até o começo do ano que vem para retomar a luta pelo aborto legal no âmbito parlamentar.

Leia mais: Análise: Mais cedo ou mais tarde, legalização do aborto na Argentina se tornará lei (O Globo, 08/08/2018)

A iniciativa, que permitia a interrupção voluntária da gravidez até as 14 semanas de gestação, fora aprovada pela Câmara em junho passado, por 129 a favor e 125 contra. Sempre soube-se que o debate no Senado seria mais acirrado, mas num primeiro momento setores favoráveis ao aborto legal tiveram a expectativa de que o projeto se tornasse lei.

Os últimos discursos, nesta madrugada, foram a favor do projeto, entre eles o da senadora e ex-presidente Cristina Kirchner (2007-2015).

— O mais grave desta noite é que vamos rejeitar o projeto sobre aborto legal e não daremos nenhuma alternativa. E o aborto continuará existindo e temos de dar uma resposta à demanda de um setor amplo da sociedade — declarou a senadora.

Ela, que nunca propôs um debate legislativo sobre a legalização do aborto durante seus dois mandatos, disse ter mudando de ideia “pela juventude, por esse mar de mulheres que saiu às ruas”.

— Sempre votei pela vida e sempre governei pela vida. Voto pela vida quando rejeito projetos de ajuste econômico — defendeu-se Cristina, dos ataques dos militares anti aborto que acusam deputados e senadores que respaldaram o projeto de não serem pro vida. — Quando meus dois netos estiverem na adolescência quero que saibam que sua avó votou a favor deste projeto e garanto que até lá ele será lei — enfatizou a senadora.

Outro dos fortes defensores do projeto foi o senador da União Cívica Radical Luis Naidenoff que, em sintonia com outros colegas do Senado, insistiu em dizer “a todos os que estão nas ruas que não desanimem, é apenas uma questão de tempo”.

— Nada está perdido. O problema é que a sociedade está na vanguarda e a política está um passo atrás — lamentou o senador radical.

Foram mais de quatro meses de debates no Parlamento, na mídia e nas redes sociais. Pela primeira vez em sua História, a Argentina debateu publicamente a legalização do aborto e o assunto claramente deixou de ser tabu.

Para o governo do presidente Mauricio Macri, o resultado representa um alívio em termos de tensões internas, já que importantes membros da aliança governista Mudemos, entre eles a vice-presidente, Gabriela Michetti, que também é presidente do Senado, eram contra a medida. No entanto, a derrota também pode implicar a perda de eleitores entre setores progressistas, em momentos em que o presidente está em baixa nas pesquisas pela desaceleração da economia e deterioração da situação social.

Janaína Figueiredo

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