(O Sul, 30/09/2014) Centenas de mulheres, portando faixas e cartazes, protestaram a favor da legalização do aborto, no domingo, em Porto Alegre. Também ocorreram atos em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte (MG). As manifestações marcaram a data, já que 28 de setembro é considerado o dia latino-americano e Caribenho pela Legalização do aborto. O ato, que ocorreu no Parque da Redenção, se iniciou, pela manhã, com coleta de assinaturas que visam retirar do código penal brasileiro os artigos 124 e 126, que criminalizam, respectivamente, mulher e médico por realizar interrupção de gestação com consentimento da gestante. Segundo a organizadora do evento, a estudante Maria Fernanda Salaberry, a coleta de assinaturas permanecerá acontecendo na Capital.
Atualmente, o aborto, no Brasil, só é permitido em algumas situações previstas em lei: quando há risco de vida para a mãe. quando a gravidez é fruto de estupro ou em caso de fetos anencefálicos. Durante a tarde, uma aula pública reuniu centenas de gaúchas para discutir o tema. Após o bate-papo, elas fizeram uma caminhada pela avenida João Pessoa. Conforme a estudante Maria Fernanda, o evento, realizado por uma comissão de diversas entidades feministas de Porto Alegre e mulheres autônomas, tem o objetivo de ampliar o debate sobre a legalização do procedimento. “A descrinalização e legalização do aborto abrem a perspectiva de iniciarmos uma política madura e efetiva de contracepção, garantindo que as mulheres possam decidir o destino de seus corpos”, informou o texto sobre o ato. A manifestação foi divulgada, durante a última semana, em diversos bairros de Porto Alegre, em universidades e nas redes sociais. Apesar de 2 mil pessoas terem confirmado presença no evento que convocava a manifestação pelo Facebook, cerca de 300 pessoas participaram das atividades, segundo Maria Fernanda.
São Paulo.
Na capital paulista, segundo os organizadores, mais de 200 pessoas participaram do protesto denominado “Cortejo da mulher morta em aborto clandestino”. A marcha passou em frente a diversas igrejas da região. As manifestantes carregavam um caixão, simbolizando as vítimas falecidas. “Nosso clima é de luto quando nossos direitos são moeda de troca. Portanto, pedimos que viessem vestidas com uma roupa que representasse o luto”, afirmaram os organizadores. Entre as mulheres lembradas pelas manifestantes de São Paulo foram citadas Jandira Magdalena dos Santos, sepultada, no domingo, no Rio, que ficou desaparecida por quase um mês após procurar uma clínica de aborto, e Elizângela Barbosa, que teve seu intestino e útero perfurados após passar por outro aborto clandestino, há uma semana.
Rio de Janeiro.
No Rio, cerca de 100 cariocas pediram a legalização da prática. A ação foi idealizada pela estudante Isabella Medeiros, que criou um evento pelo Facebook. Em poucos dias, ativistas em outras partes do Brasil a procuraram para marcar manifestações conjuntas. “No início, quando decidi marcar o ato, eu me senti um pouco sozinha. Mas logo depois as pessoas começaram a entrar em contato comigo, por telefone e pelo Facebook. Fiquei muito feliz e surpresa com o resultado”, conta Isabella. Os manifestantes também pediram que a prática do aborto seja legalizada e oferecida pelo Sistema Único de Saúde, a fim de evitar que novas mortes ocorram. “Queremos um procedimento público, gratuito e seguro. Hoje, uma mulher rica vai a uma clínica e consegue abortar pagando alto, mas as pobres têm que recorrer a outros métodos, e muitas acabam morrendo, como a Jandira”, salienta Isabella. Os manifestantes ressaltaram, porem, que a bandeira da legalização do aborto não pretende substituir nem diminuir a importância de métodos contraceptivos. Uma das participantes da marcha, a professora Lena Lavinas, lembra que os recursos disponíveis não são suficientes hoje para impedir a gravidez involuntária. “Achar que métodos contraceptivos são suficientes para prevenir gravidez é uma visão equivocada. O acaso acontece, mesmo com toda a precaução. Por isso, estamos aqui para garantir a saúde da mulher que queira recorrer ao aborto. Desde dezembro de 2012, quando o aborto foi legalizado no Uruguai, nenhuma mulher morreu em decorrência da prática”, afirma Lena.
Alice Klein
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