Renan Antônio da Silva: ‘Não é possível estudar sendo humilhado’

17 de abril, 2017

Pesquisador veio ao Rio fazer palestra a respeito de suas pesquisas sobre gênero e inclusão de homossexuais em sala de aula

“Nasci no interior de São Paulo, e vivo no Sul de Minas. Sou doutorando pelo Programa de Pós-graduação em Educação Escolar da Unesp-Araraquara e fiz estágio doutoral em Lisboa, na linha temática de gênero, sexualidade e interseccionalidade. Sou antropólogo e mestre em Desenvolvimento Regional.”

(O Globo, 17/04/2017 – acesse no site de origem)

Conte algo que não sei.

A comunidade LGBT é bastante desunida. Se analisarmos bem, por exemplo, a questão política, teríamos, já com a quantidade de pessoas que se declaram homossexuais ou simpatizantes, mais e bons representantes na esfera política. Em 2015, uma pesquisa realizada nos Estados Unidos mostrou que há homossexuais que tendem a ter comportamento homofóbico, por não aceitarem afeminados ou homens que se vestem de mulher.

“A inclusão de pessoas LGBT nos mais variados setores da sociedade não existe”, ressalta o antropólogo Renan Antônio da Silva – Leo Martins / Agência O Globo

As instituições de ensino brasileiras sabem acolher jovens LGBT?

Fala-se muito sobre a questão da inclusão social no Brasil, mas os professores e funcionários do âmbito educacional não estão preparados para lidar com essa questão. O trabalho teórico é bonito, mas, na prática, é bem diferente. A inclusão de pessoas LGBT nos mais variados setores da sociedade não existe.

O que falta para melhorar a relação entre educadores e alunos homossexuais?

Em primeiro lugar, o respeito e, com o passar do tempo, a aceitação. A questão se resume em tolerar o que o outro é. Não interessa ao educador detalhes sobre a intimidade do aluno, e vice-versa. Ser um bom profissional ou aluno é o que garante o respeito nesse âmbito, não a orientação sexual.

Por que a tentativa de incluir o debate sobre orientação de gênero nas escolas recebe tantas críticas?

Principalmente, devido a pressões religiosas de núcleos ligados a entidades militares. Soma-se a isso o fato de o grupo LGBT não ter muita participação em ambientes públicos, como o Congresso. O fato de termos poucos parlamentares que defendam essa questão prejudica a possibilidade de um debate mais amplo.

Qual o cenário que pessoas LGBT encontram em escolas e universidades?

Existe uma alta taxa de desistência de alunos LGBT no Brasil, porque eles não são aceitos pelo grupo de alunos e, também, pelos funcionários das instituições de ensino, que fazem piadas e comentários ofensivos. No nosso país, também existem profissões estigmatizadas, como cabeleireiro e maquiador, por exemplo. Devido ao preconceito nas escolas e aos estigmas, muitos jovens procuram essas profissões, porque acreditam que só podem desempenhar essas funções na sociedade. O estudo é essencial, mas não é possível estudar sendo pressionado e humilhado.

O atual sistema de ensino precisaria passar por mudanças para acolher pessoas com diferentes orientações de gênero?

Não vejo uma defasagem no currículo escolar. Não seria necessária a criação de uma disciplina que ensinasse como aceitar as diferenças ou que induzisse a mudança de pensamentos. Acredito que seja preciso uma renovação na forma de enxergar o aluno, não classificando-o como hétero ou homossexual, mas, simplesmente como aluno.

Como promover a inclusão de pessoas LGBT no âmbito de ensino?

Todos devem ser incluídos de forma natural e leve. Creio que o respeito tende a nascer quando o sentimento de inclusão estiver em todos, quando deixarmos de ser vários guetos e nos transformarmos em unidade. Os olhares de hoje são do preconceito e da não aceitação.

Por Gabriel Martins

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