(Folha de S.Paulo) O Dia Internacional das Mulheres foi incorporado ao calendário brasileiro como uma comemoração. Geralmente, a pressão comercial transforma este momento em um elogio atemporal às mulheres, onde o reforço dos estereótipos de gênero é cada vez mais comum.
Muito mais do que motivo para presentes, o Dia Internacional das Mulheres serve como um marco para estimular a reflexão sobre a trajetória dos direitos das mulheres, incorporando uma visão de perspectivas para o futuro. Mas como medir as conquistas, saber onde estão os obstáculos e trabalhar de forma efetiva para formar uma sociedade mais justa, inclusiva e igualitária?
Em 1995, representantes dos Estados-membros da ONU se reuniram em Pequim, na China, na 4ª Conferência Mundial sobre a Mulher.
O documento final da conferência, chamado de “Plataforma de Ação de Pequim”, transformou-se em uma agenda para o empoderamento, com a definição e o enquadramento político fundamental para o avanço da igualdade de gênero e para eliminar a discriminação contra mulheres e meninas em todo o mundo. E tem funcionado como um estímulo para uma atividade direcionada por parte dos governos.
Vinte anos depois, a Plataforma de Ação de Pequim continua muito atual. O documento lista doze áreas de trabalho prioritárias, com ações detalhadas para alcançar seus objetivos estratégicos: mulheres e pobreza; educação e capacitação de mulheres; mulheres e saúde; violência contra a mulher; mulheres e conflitos armados; mulheres e economia; mulheres no poder e na liderança; mecanismos institucionais para o avanço das mulheres; direitos humanos das mulheres; mulheres e a mídia; mulheres e meio ambiente e direitos das meninas.
A partir de março deste ano até março de 2015, a ONU Mulheres no Brasil e no mundo estará voltada para a análise dos resultados alcançados nestas áreas temáticas nos últimos vinte anos. E todo este processo está sendo chamado de Pequim+20.
Ainda que tenham metas desafiadoras, os acordos internacionais assinados pelo Brasil acabam funcionando como uma ferramenta de pressão para que os governos alcancem resultados concretos nas áreas em que se comprometem internacionalmente, e sua devida aplicação pode mudar o cotidiano de todas e todos nós. O Brasil tem um forte exemplo de resultado concreto de ação internacional, que é a Lei Maria da Penha.
Atravessamos um momento estratégico: a comunidade global está intensificando os esforços para a consecução dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, trabalhando na formulação de uma agenda de desenvolvimento pós-2015, além de concentrar esforços em relação aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
Interligados, esses processos proporcionam uma oportunidade única para posicionar a igualdade de gênero, os direitos e o empoderamento das mulheres no centro da agenda global.
Neste Dia Internacional das Mulheres, sabemos que muito ainda precisa ser feito para atingir a meta de igualdade de gênero e empoderamento das mulheres e meninas, e acreditamos que esta revisão tem o poder de destacar os avanços e obstáculos na implementação destas normas, fornecendo um caminho palpável para o desenvolvimento.
NADINE GASMAN é representante da ONU Mulheres no Brasil
Acesse em pdf: Dia da Mulher não é momento para reforçar estereótipos (Folha de S.Paulo – 08/03/2014)