(Revista Donna, 15/06/2016) Feminismo é uma palavra que assusta muitos (e muitas). Quem são essas mulheres que criam movimentos, questionam comportamentos masculinos e querem acabar com o mundo como conhecemos? Talvez você nem tenha notado, mas elas são como você. Muitas vezes, o que separa as duas é apenas o rótulo: feminista.
– Grande parte da sociedade não só não sabe o que é feminismo, como acha que sabe e sabe errado – comenta Babi Souza, criadora do movimento “Vamos Juntas?”. – Na nossa página, mesmo muitas mulheres reclamam vez ou outra que a página “está muito feminista”. Quando eu respondo dizendo que a página sempre foi feminista, não raro a mulher deixa de seguir a página.
O feminismo é uma luta por equidade, por direitos iguais, e surgiu muito cedo na nossa sociedade. Desde o século XIX, mulheres lutam por participação social e política, direito ao voto e autonomia sobre o seu corpo e escolhas. Estamos no século XXI e, no Brasil, ainda não alcançamos muito desses objetivos. E aquelas que brigam por isso continuam sendo vistas com desconfiança.
– As feministas sempre lutaram contra a discriminação das mulheres, pela transformação da cultura que impede a igualdade de direitos de gênero e que as vulnerabiliza – explica a doutora em Comunicação Márcia Veiga, pesquisadora em gênero e sexualidade. – Elas também sempre foram tratadas como mal-amadas e histéricas.
Por isso, por muitos anos, a discussão sobre a noção de gênero como uma construção social – que falar sobre brinquedos, roupas, áreas ou qualidades de homens e de mulheres não é algo natural, mas sim uma regra criada pela nossa sociedade, por exemplo – ficou restrita ao ambiente acadêmico. Hoje, com a internet, qualquer menina adolescente pode pesquisar o por quê dela precisar arrumar o quarto, mas o irmão dela não e você pode ler sobre como seus colegas homens ganham um salário muito maior que o seu. E ambas têm o direito e o espaço – porque as redes sociais são abertas para todo mundo – de se revoltar com isso. Essa revolta? Fique sabendo que ela é feminista, mesmo que você não dê nome a ela.
– A internet essa circulação se amplificou, criou novas formas coletivas de organização e troca entre as mulheres, e tem ajudado a difundir e desmistificar ainda mais o sentido do feminismo. Isso tem contribuído também para uma cultura de colaboração entre as mulheres, que foge da ideologia de competitividade e rivalidade entre elas, nutrida pelo machismo – esclarece Márcia Veiga. – Ao acessar esses conhecimentos, as mulheres passam a cada vez mais, e mais cedo, questionar situações de opressão e perceber que o que tomavam como algo individual são fenômenos culturais que atingem outras mulheres, fundamentalmente por sua identidade de gênero.
É por isso que o feminismo está cada vez mais na nossa cara, seja com aplicativos como o “Sai Pra Lá, Assédio”, com as hashtags #meuprimeiroassédio e #meuamigosecreto, movimentos como o “Vamos Juntas?” e campanhas como a #33DiasSemMachismo, que nasceu após a notícia do estupro coletivo no Rio de Janeiro com a ideia de propor desafios diários para as pessoas refletirem sobre seus hábitos machistas.
Todos esses movimentos também tentam desmistificar essa ideia de feministas como mulheres histéricas que odeiam homens e mostrar que uma mulher “normal” também tem atitudes feministas.Quer ver só como? Márcia, Babi e uma das organizadoras da campanha #33DiasSemMachismo, Gabriele Garcia, nos mostram:
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“Quando uma menina questiona o fato de ter que arrumar a casa, lavar a louça ou cozinhar, quando as mesmas expectativas e demandas não recaem sobre seus irmãos do sexo masculino. Com esse questionamento ela está reivindicando o direito de que os cuidados com as tarefas do lar e com os filhos devem ser de igual responsabilidade para homens e mulheres”. (Márcia Veiga)
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“Quando esperamos tratamento igualitário no ambiente de trabalho, compartilhamos tarefas domésticas com homens e não toleramos assédio moral, sexual ou qualquer tipo de violência contra a mulher também estamos feministas. Sempre que nos percebermos exercendo nossa liberdade de escolha e exigindo respeito e tratamento igualitário, estamos sendo feministas”. (Gabriele Garcia)
3)
“Quando as mulheres questionam o fato de receberem salários inferiores aos dos homens – tanto na ocupação de mesmos cargos e responsabilidades, quanto até mesmo em cargos e responsabilidades superiores aos dos colegas do sexo masculino – elas estão travando uma luta feminista”. (Márcia Veiga)
4)
“Quando a gente tem certeza que as mulheres não merecem ter medo de estupro ao andar na rua somos feministas. E mais: quando percebemos que nosso medo é pelo fato de que somos mulheres (e que nosso medo é diferente do medo dos homens) nos damos conta do machismo institucionalizado e da cultura do estupro”. (Babi Souza)
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“Quando as mulheres reivindicam o direito aos seus corpos, de como viver sua sexualidade, de como dispor de sua imagem, com quem, quando, se ou como vai se relacionar, elas estão tendo uma ação feminista. Por exemplo, quando questionam se e quando querem ser mães, elas estão questionando as convenções hegemônicas de gênero que normatizam que o papel de mãe e esposa das mulheres é natural”. (Márcia Veiga)
Natasha Heinz
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