A culpa é das mulheres?, por Carmen Hein de Campos

23 de abril, 2015

(Clic RBS, 23/04/2015) Volta e meia ouvimos comentários sugerindo que grande parte dos problemas sociais, dentre eles a criminalidade, decorrem da desestruturação familiar porque as mulheres saíram para trabalhar. Semelhante afirmação foi feita pelo secretário de Segurança Wantuir Jacini no programa Gaúcha Atualidade. Ou seja, no final das contas, a culpa é sempre das mulheres.

Não fosse uma explicação batida e sinônimo de mesmice, o que surpreende é que ela vem exatamente de uma autoridade pública que tem o dever de ser, no mínimo, mais esclarecida e oferecer explicações mais convincentes e consistentes sobre a crescente e complexa criminalidade dos dias atuais.

Culpar as mulheres que trabalham pela criminalidade não explica, por exemplo, a criminalidade do colarinho branco. Pessoas e famílias consideradas bem estruturadas cometendo crimes em conjunto, isto é, uma organização familiar para delinquir. Será que a criminalidade do colarinho branco também é explicada pela ausência das mulheres em casa? Às avessas, poderíamos dizer que estaríamos então, diante de uma “criminalidade do colarinho rosa”, utilizando a expressão de Nancy Fraser.

O desvio e a criminalidade têm raízes profundas em nossa sociedade e estão em todos os setores da sociedade e aparecem de diversas formas. Desde uma naturalizada “não parar em faixa de segurança (e atropelar pedestres), oferecer “presentinhos”, achar que se pode dar um “jeitinho”, até o “devio” de milhões de reais para contas próprias. São comportamentos que revelam um profundo desrepeito a normas sociais e éticas. E a omissão e conivência dos poderes públicos é gritante. Para exemplificar, não se vê campanhas educativas e fiscalização para respeito ao pedestres e ciclistas nas cidades. E o resultado aparece nos altos índices de mortes nas estradas brasileiras.

Por sua vez, a criminalidade violenta é resultado de uma série de fatores, dentre eles, a violência doméstica, a ausência de políticas sociais, culturais, educacionais, de emprego etc., para a inclusão social. Toques de recolher são impostos a moradores de bairros mais pobres e nada se diz a respeito. É fácil culpar as mulheres pela omissão, incompetência e conivência do poder público, cujas políticas de segurança são sempre mais do mesmo (repressão) e raramente trabalham com a prevenção a todas as formas de violência e a inclusão social.

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