Ela é feminista, foi ministra dos Direitos da Mulher até 2017, elegeu-se senadora. Laurence Rossignol, socialista francesa, 60 anos, chega terça-feira ao Rio com a intenção declarada de apoiar a luta das mulheres brasileiras. Faz palestra na Maison de France para uma plateia de representantes dos grupos feministas e vai entregar aos Presidentes da Câmara e do Senado um manifesto com 1400 assinaturas em defesa da legalização do aborto.
«As violências contra as mulheres são as mesmas em todos os lugares, são violências sexuais, conjugais, econômicas, são violências cometidas pela privação do direito sexual e reprodutivo. No Brasil, a legalização do aborto é uma questão central, por isso vou lá apoiar as mulheres que lutam por isso», disse.
Simples assim. Foi convidada pelo Coletivo Feminista 4D – de quatro décadas – e aceitou. Não por acaso a visita de Laurence acontece pouco antes da audiência pública sobre o aborto, convocada para junho pela ministra do Supremo Rosa Weber. «Está na hora de botar esse assunto na pauta», diz Lena Lavinas, do Coletivo 4D e professora de economia da UFRJ.
Como ministra do governo de François Hollande, Laurence fez aprovar uma lei para punir sites que fazem propaganda contra o aborto e lançou uma campanha nacional contra o machismo com o slogan «Machismo não faz nosso gênero ». Em 2014, no Senado, coube a ela chefiar uma comissão para examinar um assunto polêmico: a punição de clientes das prostitutas.
Ano passado, em discurso na Conferência das Mulheres na ONU, Laurence lembrou as recomendações da Conferência das Nações Unidas em Pequim: há 23 anos o texto final pedia esforços para que as meninas e mulheres possam ter as mesmas oportunidades e liberdades dos meninos e homens. «Quando os direitos das mulheres não avançam, invariavelmente recuam», alertou no plenário da ONU.
«O acesso à educação, à formação profissional e o ingresso no mercado de trabalho, a participação das mulheres nas decisões políticas e econômicas em condições equiparáveis às dos homens, ainda são evidentemente objetivos prioritários. Mas todas e todos nós aqui presentes sabemos que o reconhecimento universal dos direitos sexuais e reprodutivos condiciona a realização de todos os outros objetivos. Sabemos perfeitamente que impedir as mulheres de escolherem o momento propício à maternidade é o melhor meio de organizar a exploração das mesmas e perenizar as desigualdades econômicas e sociais» destacou Laurence na ONU.
Contato: Angela Freitas (Coletivo Feminista 4D)
21-982695110
Trechos do discurso de Laurence Rossignol na 61º Comissão das Mulheres na ONU
«Todas as formas de discriminação e de violência são decorrentes disso: o enclausuramento na esfera doméstica, o confisco dos direitos patrimoniais e cívicos, a segregação no espaço público, a persistência das disparidades salariais, a precariedade econômica, a dificuldade de acesso às responsabilidades profissionais e políticas, a invisibilidade em todos os setores… quando justamente são elas, as mulheres, o esteio da sociedade!»
«O reconhecimento do direito fundamental das mulheres de disporem livremente de seus corpos graças ao acesso à contracepção e à interrupção voluntária da gravidez (IVG), constitui condição prévia à autonomia das mulheres».
«A França, portanto, continuará a encorajar os Estados membros (da ONU) a fazerem dos direitos sexuais e reprodutivos uma prioridade».
«Esta exigência, hoje, colide com o ressurgimento das ideologias reacionárias e os crescentes extremismos religiosos que procuram restringir as mulheres à procriação e à esfera doméstica. Nenhum país, nenhum continente está a salvo desta onda conservadora que ameaça arrasar os direitos conquistados, à custa de lutas, pelas mulheres».
«Frente a este risco de regressão, a França tomou a iniciativa de reunir em Paris no dia 8 de março (de 2017) mulheres e homens que, nos cinco continentes, estão na linha de frente no combate pela defesa dos direitos das mulheres. Juntos… Fizemos o juramento de encorajar e de acompanhar o processo de autonomia das meninas e das mulheres através do reconhecimento universal dos direitos sexuais e reprodutivos, através da luta contra todas as formas de violências contra as meninas e as mulheres, e através da igualdade de acesso à educação e à formação inicial e contínua. A ação da França em meio a esta 61ª Comissão da Mulher inscrever-se-á, portanto, plenamente, nesta ambição feminista».
Anexa: Entrevista concedida pela Senadora Rossignol a Helena Celestino, publicada hoje no Valor Econômico.
http://www.valor.com.br/cultura/5517569/machismo-nao-faz-meu-genero