Após denúncias, Conar tira do ar anúncio da cerveja Devassa

02 de março, 2010

devassaO comercial para TV da campanha Devassa Bem Loura foi retirado do ar pelo Conar (Conselho de Autorregulamentação Publicitária). Após receber denúncias da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM) e de consumidores, o Conar abriu três processos éticos contra a campanha de lançamento da cerveja Devassa, do Grupo Schincariol.

A liminar que tira o anúncio temporariamente do ar – além de algumas peças da campanha – atende ao pedido do relator do processo, que não teve seu nome revelado. 

O recurso da Schincariol será discutido na reunião do Conselho de Ética do Conar, sendo que a retirada do anúncio do ar pode ser suspensa pelos conselheiros. Segundo matéria de O Estado de S.Paulo, a polêmica sobre a propaganda está sendo amplamente discutida em blogs e no Twitter e o filme da campanha no YouTube já teve mais de 420 mil acessos.

No spot de TV que a agência Mood preparou para a campanha, a modelo e socialite norte-americana Paris Hilton faz poses sensuais na varanda de um apartamento enquanto pega uma lata de cerveja Devassa.

devassa4No primeiro processo, aberto a partir da denúncia da SPM será discutido se a campanha é sexista e desrespeitosa com as mulheres. Um outro processo vai avaliar se o comercial faz um apelo exagerado à sensualidade, contrariando o código de autorregulamentação publicitária aprovado pelo Conar, que condena o apelo erótico e o tratamento de modelos como objeto sexual em propagandas de cervejas e vinhos.

O terceiro processo partiu do próprio Conar e questionar a promoção realizada na internet em que a cervejaria oferece um prêmio de R$ 3.000 ao criador do melhor samba tocado em caixa de fósforos. O código proíbe qualquer sugestão que induzam as pessoas a consumir álcool em excesso.

Procurada pela reportagem da Folha de S.Paulo, a Schincariol não quis comentar os processo e declarou que ainda não havia sido notificada.

O Conar pode solicitar a retirada imediata da campanha por meio de liminar ou convocar seus conselheiros em até 40 dias para avaliar o caso.

Leia a notícia dos jornais O Estado de S.Paulo (02/03/2010) e da Folha de S.Paulo (25/02/2010) em pdf


A campanha Devassa Bem Loura

A cerveja faz parte da “família Devassa”, cujas integrantes são as cervejas loura, ruiva, negra, índia e sarará, “cheias de segundas intenções”. Como afirma o site da campanha [que saiu do ar após a decisão do Conar]: “Devassa é bem alegre, tem aquele astral que atrai coisas boas, pessoas interessantes e papos divertidos. Pedir uma Devassa tem a dose certa de segundas intenções”.

Segundo declarou o diretor de marketing da empresa, Luiz Claudio Taya, em matéria publicada pelo jornal O Estado de S.Paulo, foram destinados R$ 100 milhões para o lançamento da cerveja, que tem uma estratégia de marketing agressiva. Taya adiantou que outras louras serão convidadas a entrar nas campanhas da nova marca.

Acesse a íntegra da notícia divulgada pelo jornal O Estado de S.Paulo – 11/02/2010


O impacto nefasto da publicidade discriminatória sobre as novas gerações

No artigo “A explícita coisificação da mulher na publicidade e seu impacto sobre as novas gerações”, Jacira Vieira de Melo, diretora executiva do Instituto Patrícia Galvão alerta para o poder que esse tipo de propaganda estereotipada e discriminatória exerce sobre a construção do imaginário dos jovens e aponta a necessidade de se revisar o modelo de autorregulamentação da publicidade (Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária).

“Ao reforçar estereótipos negativos da figura feminina – a representação da mulher na propaganda de cerveja opera no plano de uma ‘mulher símbolo’, uma ‘mulher ideal’, uma ‘mulher ilusão’, uma ‘mulher sensual’ a serviço dos desejos masculinos –, os fabricantes de cerveja promovem um efeito pedagógico altamente negativo sobre garotos e garotas. Essa representação feminina remete à coisificação e à submissão.

Essa repercussão sobre os jovens talvez seja o efeito mais nefasto de campanhas como as da ‘Devassa’, de ‘A Boa’ e da ‘Musa do Verão’, entre outras. Trata-se de um público que ainda está construindo uma visão crítica e sua capacidade para fazer escolhas, sendo facilmente seduzível pelos apelos desse tipo de propaganda que, apreendida fora de um contexto crítico, será percebida e absorvida como ‘lúdica, divertida, interessante e ideal’.”

Jacira Melo declara que campanhas como a da Devassa alerta para a necessária revisão do sistema de autorregulamentação da publicidade, idealizado por anunciantes e agências de publicidade. Segundo Jacira, “este modelo há muito se revelou insuficiente e ineficiente, em especial no Brasil, onde 91% dos jovens assistem à TV durante o tempo livre. Segundo pesquisa realizada em 2008 pela Cultura Data, ‘é especialmente nos tempos livres e nos lazeres que os jovens constroem suas próprias normas e expressões culturais, ritos, simbologias e modos de ser que os diferenciam do mundo adulto (…) lazer pode ser espaço de aprendizagem das relações sociais em contexto de liberdade de experimentação’.”

Para a diretora do Instituto Patricia Galvão, é preciso ter especial atenção para propagandas como essa, que operam na contramão dos esforços da sociedade para a promoção de padrões éticos de civilidade e respeito entre homens e mulheres.

Leia a íntegra do artigo de Jacira Melo
 

A devassa da devassa

“Suspensão de propaganda de cerveja estrelada por Paris Hilton escancara os limites do “politicamente correto” e  aponta para o desgaste do erotismo na sociedade atual”. Em artigo publicado no suplemento Mais! do jornal Folha de S.Paulo, o professor de ética e filosofia da Universidade de São Paulo Renato Janine Ribeiro comenta a retirada pelo Conar da propaganda da cerveja Devassa.
  
Acesse o artigo na íntegra: Folha de S.Paulo – 07/03/2010

Anúncio põe em xeque autorregulamentação publicitária 

No blog sobre “saúde pública e privada”, a repórter Fabiane Leite, da editoria Vida& de O Estado de S. Paulo, escreve:

“Balanço pós Carnaval: cerveja, cerveja e cerveja na TV e um ‘olé’ na autorregulamentação das propagandas da bebida. Defendida por anunciantes e agências de publicidade como a solução ideal para conter os estímulos ao consumo abusivo de álcool em qualquer época – e evitar restrições do governo às propagandas de cervejas – a autorregulamentação foi rasgada por Paris Hilton.” 

Em seguida, Fabiane Leite cita o Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária, aprovado pelo Conar, que em seu anexo P, item 3 – Princípios do consumo com responsabilidade social, traz as seguintes determinações: “a) eventuais apelos à sensualidade não constituirão o principal conteúdo da mensagem; modelos publicitários jamais serão tratados como objeto sexual; (…) c) não serão utilizadas imagens, linguagem ou argumentos que sugiram ser o consumo do produto sinal de maturidade ou que ele contribua para maior coragem pessoal, êxito profissional ou social, ou que proporcione ao consumidor maior poder de sedução”. 

Leia o texto postado no blog Núcleo de Saúde, de Fabiane Leite – 19/02/2010

Em 02/03/2010, a jornalista Fabiane Leite postou em seu blog a seguinte nota:

“A decisão final do Conar saiu ontem, determinando a imediata retirada do anúncio. A fabricante da cerveja promete cumprir. O órgão divulgou que agiu principalmente impulsionado pela Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, mas sua própria diretoria estava incomodada porque, como informei, o anúncio colidiria com a autorregulamentação que surgiu para evitar restrições governamentais à propaganda da bebida.”


Indicação de fontes:

Jacira Melo – mestre em ciência da comunicação e diretora executiva
Instituto Patrícia Galvão – Comunicação e Mídia
São Paulo/SP
(11) 3285-4951  / 3266-5434 / 9212-3691 – [email protected] 
Fala sobre: imagem da mulher na publicidade; direito à comunicação; direitos das mulheres

Rachel Moreno
– psicóloga
Observatório da Mulher e Articulação Mulher e Mídia
São Paulo/SP
              11 3751-4043        / 9988-5997 – [email protected]
Fala sobre: imagem da mulher na publicidade; direito à comunicação; direitos das mulheres

 

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