(O Globo, 19/05/2016) ‘Precisamos pensar na representatividade feminina’, diz fundadora do grupo Não Me Kahlo
“#MeuAmigoSecreto diz que aborto é assassinato, mas pediu pra namorada abortar quando ela engravidou.” Com esse tweet, o coletivo Não Me Kahlo iniciou, no fim do ano passado, uma campanha que congestionou a internet com depoimentos de mulheres denunciando comportamentos machistas de homens próximos a elas. Depois da repercussão, para que conscientização em torno do tema não morresse com a hashtag, as fundadoras do coletivo transformaram a mobilização em um livro que será lançado nesta quinta-feira, na Livraria da Travessa, em Botafogo, na Zona Sul do Rio.
Em “#MeuAmigoSecreto Feminismo além das redes”, Bruna de Lara, Bruna Rangel, Gabriela Moura, Paola Barioni e Thaysa Malaquias, que compõem o coletivo Não Me Kahlo, usam os depoimentos feitos na web como gancho para aprofundarem as discussões que permeiam o movimento feminista. Entre os temas escolhidos estão: aborto, violência contra a mulher, feminismo negro, padronização estética, entre outros.
– Dentro da campanha vários assuntos foram abordados, escolhemos alguns para aprofundar o debate. É importante entender como as coisas funcionam, como a situação atual se deu. A hashtag foi essencial na hora de nos conectarmos umas com as outras para chegar a essas histórias, mas faltou o aprofundamento dessas questões – comenta Thaysa Malaquias.
No livro, as autoras recorrem a filósofos como Simone de Beauvoir e Pierre Bourdieu, entre outros, para desconstruir a ideia de que determinados comportamentos impostos às mulheres, ou posições relegadas a elas na sociedade, são “naturais”.
Em um contexto no qual o presidente interino Michel Temer foi amplamente criticado por não nomear nenhuma mulher para os ministérios, o livro traz um capítulo sobre empoderamento e representatividade, o que, de acordo com Thaysa, veio em um momento oportuno:
– Temos muita informação para lidar, é difícil filtrar e transformar em poíitica, principalmente nos tempos de agora, que estamos com falta de representatividade. Precisamos pensar melhor no que é a representatividade feminina.
No capítulo sobre maternidade, por exemplo, que começa com ” #MeuAmigoSecreto diz que toda mulher nasce para ser mãe”, as autoras discutem a romantização da maternidade e questionam a máxima de que todas as mulheres são imbuídas de um “instinto materno” ou um “dom de ser mãe” recorrendo à história para demonstrar de que maneira esse conceito foi construído na sociedade.
– É uma tendência trazer toda essa discussão da internet para os livros e inserir esses temas na academia. A gente listou temas que vieram na cabeça, debatidos com mais frequência e de familiaridade no coletivo, mas pretendemos lançar outro livro mais adiante, abordando coisas que ficaram de fora- explica Thaysa.
Paula Ferreira
Acesse o PDF: Campanha #MeuAmigoSecreto gera livro que será lançado nesta quinta (O Globo, 19/05/2016)