Desigualdade de gênero persiste, mostra debate do GLOBO

25 de março, 2015

(O Globo, 25/03/2015) Evento ‘Elas questionam’ atesta que mulheres ainda têm de lutar para conquistar um lugar ao sol e vencer a discriminação 

O debate “Elas questionam”, realizado ontem pela Casa do Saber O GLOBO, foi aberto com dados contundentes sobre o pouco acesso das mulheres à educação sexual e a cuidados básicos de saúde no Rio, apresentados pela coordenadora executiva de pesquisa do “Rio como vamos”, Thereza Lobo. Se na área administrativa de Botafogo 5% dos partos feitos são de jovens de até 19 anos de idade, no Complexo do Alemão esse índice sobe para 26%. Já o exame pré-natal é considerado privilégio na Maré, onde 40% das gestantes não fizeram o mínimo de sete consultas médicas antes de dar à luz. Em Botafogo, a taxa é de apenas 6%. Para a socióloga, há mulheres cariocas que são mais “maltratadas” do que as outras.

A desigualdade de gênero é a doença da humanidade, porque ela atravessa todos os países: Brasil, Estados Unidos, Europa, Oriente Médio… É fato que a discriminação está presente nas elites e na pobreza, mas ela é sentida de formas diferentes em cada estrato social, e precisamos dar uma atenção redobrada a essas mulheres que não têm acesso a direitos básicos — apontou Thereza.

O encontro foi resultado de uma ação do Dia Internacional da Mulher, realizada no dia 8 de março, quando O GLOBO convocou mulheres para postarem questões nas redes usando a hashtag #elasquestionam. A partir dessa interação, temas que mais intrigam os internautas foram selecionados para discussão: as disparidades salariais em relação aos homens, o dilema carreira versus maternidade, além da reconfiguração do trabalho doméstico.

A jornalista Maria Fernanda Delmas, editora de Economia do GLOBO, ressaltou que a desigualdade de gênero no mercado de trabalho não deve ser tratada apenas como um problema social, mas como um problema econômico, que atrapalha o desenvolvimento dos países. Um estudo do banco Goldman Sachs mostrou que, no mundo, há 860 milhões de mulheres em idade ativa fora do mercado de trabalho, quase a população europeia toda.

— Essa é a dimensão da força de trabalho que estamos perdendo ao subaproveitar as trabalhadoras. Se não fossem as mulheres, o PIB americano teria sido 25% menor em 2011. Já uma pesquisa da OCDE projetou que a Alemanha poderia ter um PIB 11% maior se mais mulheres estivessem inseridas no mercado — destacou Maria Fernanda.

REMUNERAÇÃO IGUALITÁRIA É UMA META

Também participante do debate, a economista Hildete Pereira de Melo, professora da UFF e especialista em trabalho e desigualdade de gênero, disse que é preciso reconhecer as conquistas. Ter uma grande parcela de mulheres brasileiras com acesso à educação superior é uma delas, mas, assim como Maria Fernanda, ela acredita que o próximo desafio é dominar o mercado e conquistar a remuneração igualitária.

— Em média, as mulheres ganham 70% do salário dos homens, segundo o IBGE. Vemos mulheres em profissões e cargos equivalentes aos de profissionais masculinos ganhando menos — enfatiza Hildete.

A divisão do trabalho doméstico ainda é outra fronteira que precisa ser cruzada.

— Nos instruímos, ganhamos autonomia, mas, nessa sociedade patriarcal, ainda não conseguimos fazer com que eles dividam as tarefas do lar conosco. Esse é um trabalho invisível, que não é remunerado, mas deixa as mulheres esgotadas — observou Hildete.

Para adicionar mais um encargo na já sobrecarregada rotina da mulher, a criação dos filhos entra nessa equação com peso dobrado. Ela ainda precisa enfrentar o preconceito de grande parte das empresas privadas, que acreditam que a mão de obra feminina é mais cara, pois vem com a licença maternidade.

— Isso é um mito. O impacto na folha salarial das empresas é muito pequeno — afirmou Maria Fernanda durante o debate, mediado por Flávia Oliveira, colunista de Sociedade.

Morina Cohen

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