(O Globo) A Lapa tem fama por abrigar diversão para todos os gostos, mas, na opinião de muita gente, o bairro mais boêmio do Rio não é tão democrático assim. Frequentadores têm relatado casos de agressões machistas, homofóbicas e racistas na região. Com o objetivo de chamar a atenção para o problema, a página “Onde não ir na Lapa?” foi criada há menos de uma semana com a intenção de reunir indicações de “espaços inseguros” na Lapa. A ideia é boicotar os estabelecimentos comerciais onde se pratica ou faz-se vista grossa para as diversas formas de preconceito.
– A página surge de um movimento de denúncia das redes sociais. O que fizemos foi juntar relatos espalhados pela internet e abrir espaço para que outras pessoas possam falar sobre experiências com preconceito e violência de raça, gênero, orientação sexual, origem e classe social – explicam, por e-mail, os responsáveis pela página, que se definem como “pessoas que vivenciam o preconceito e decidiram formar uma coletiva”. – Somos mulheres que já foram assediadas na rua. Lésbicas que já foram expulsas de bar. Gays que não puderam se beijar na fila do cinema. Travestis que já foram agredidas quando voltavam para casa. Os homens negros que sofreram racismo quando eram atendidos num restaurante. Somos parte do que chamam de minorias.
Criada na última sexta-feira, a página tem mais de 2.500 seguidores. Eles enviam relatos que ajudam os administradores do espaço a montar uma lista de locais onde episódios de preconceito e agressão verbal ou física acontecem. O espaço deu destaque, por exemplo, ao caso da estudante Ana Luísa Delduck, de 22 anos, que foi assediada e agredida em frente a um bar. Ela chamou a atenção de policiais da operação Lapa Presente, mas não recebeu a devida assistência.
– Uma conhecida professora diz que o órgão mais sensível do ser humano é o bolso. Então atacamos diretamente o órgão sensível com o boicote e a propaganda negativa gerada pelos relatos. Ninguém que tenha o mínimo de bom senso vai tomar uma cerveja em um bar racista, machista ou homofóbico – afirmam os fundadores. – Sabemos que, quando um estabelecimento é boicotado, todos os outros começam a rever a sua postura.
A ideia inicial era desenvolver um aplicativo para as pessoas indicarem estabelecimentos onde se sentem inseguras na Lapa, mas os recentes casos de estupro no bairro anteciparam os planos do grupo, que optou pela página na rede social como meio de divulgação das denúncias.
– Esse movimento é um reflexo da falta de credibilidade das pessoas na polícia. A maior prova disso são os constantes problemas enfrentados por quem ainda acredita na importância de fazer um boletim de ocorrência depois de um estupro ou de maus-tratos em algum estabelecimento – comentam os administradores, animados com a rápida adesão dos cariocas à página. – Fomos procurados por estudantes, por gente engajada em denúncias de homofobia e pela associação de moradores da Lapa. Todos se mostraram muito empolgados com a iniciativa.
Por enquanto, a página tem publicado, principalmente, relatos de mulheres que foram vítimas de comentários machistas e violência. A equipe de administradores, propõe, porém, que todo tipo de preconceito seja denunciado.
– Também estamos abertos a divulgar casos que acontecem nas ruas da região. As pessoas podem enviar seus relatos por mensagem e não exigimos que detalhem o que passaram ou se identifiquem – encorajam.
Acesse o PDF: Página lista locais homofóbicos, racistas e machistas da Lapa (O Globo – 19/02/2014)