Há três anos, a ginecologista Helena Paro passou a oferecer aborto legal autogestionado e acompanhado à distância para driblar a superlotação do sistema de saúde. O método ficou e, hoje, é oferecido em oito centros de atendimento pelo Sudeste e Nordeste do país
Quando a gerente comercial Bianca*, de 27 anos, descobriu que poderia fazer um aborto via telemedicina, sentiu alívio. Ela, que havia sido vítima de uma violência sexual em uma viagem à trabalho, descobriu tudo o que aconteceu um mês depois, quando fez um teste de gravidez. Casada e com um filho pequeno, escolheu que não contaria sobre o assunto – e o que faria a respeito dele – para ninguém.
Mesmo respaldada pelas diretrizes de aborto legal no Brasil – que permite o procedimento em gestação decorrente de estupro, de risco de vida à pessoa gestante ou de feto anencéfalo –, se desesperou. Tentou métodos caseiros e pensou em recorrer a uma clínica clandestina. Em pesquisas na internet, encontrou o Projeto Vivas, que ajuda meninas e mulheres a acessarem serviços de aborto legal.
Além de ter sido alertada de que foi vítima de violência, foi direcionada pela equipe da ONG ao Hospital Geral de Vila Nova Cachoeirinha, na Zona Norte da capital paulista, uma referência no atendimento a vítimas de violência sexual. Lá, foi avaliada e recebeu duas alternativas: poderia fazer uma Aspiração Manual Intrauterina (AMIU) ou levar pílulas de misoprostol para casa – onde poderia autogestionar o aborto com a ajuda de uma médica, que a acompanharia o tempo todo à distância.