(O Globo, 27/05/2014) O aiatolá Ali Khamenei, Supremo Líder do Irã, pregou um aumento populacional no país, em um edital que deve restringir o acesso das mulheres iranianas a métodos contraceptivos, que podem trazer revezes aos direitos das mulheres e à saúde pública na república islâmica.
Em seu decreto de 14 itens, Khamenei afirma que o aumento da população iraniana — que atualmente ultrapassa os 76 milhões — “fortaleceria a identidade nacional”, e combateria “aspectos indesejáveis dos estilos de vida ocidentais”.
“Considerando a importância do tamanho da população na soberania e no progresso econômico, medidas firmes, rápidas e eficientes devem ser adotadas para reverter o declínio populacional dos últimos anos”, afirmou o líder islâmico no edital publicado em sua página na internet.
A ordem de Khamenei — que deve ser aplicada pelos três poderes do governo — substitui o lema “Menos filhos, vida melhor” adotado no fim dos anos 1980 quando anticoncepcionais foram disponibilizados no país.
Desde então, o crescimento demográfico no país caiu de 3,2% em 1986 para 1,22% em 2014, de acordo com o World Factbook, publicação anual da CIA. Na atual taxa de crescimento demográfico, a idade média da população iraniana deve aumentar de 28 anos , em 2013, para 40, em 2030.
Mas muitos iranianos estão preocupados com a nova política do aiatolá. Reformistas temem que a “campanha da fertilidade” possa trazer prejuízos aos direitos das mulheres, que representam 60% dos alunos universitários iranianos, mas apenas 12,4% da força de trabalho do país, de acordo com o Centro Estatístico do Irã. Há também, o medo com relação à saúde sexual.
— Para combater a Aids, nosso único caminho é distribuir preservativos e ensinar as pessoas a usá-los — afirmou o Dr. Minoo Moharez, chefe do Centro de Pesquisas de Aids na Universidade de Teerã. — Se, por conta de novas políticas do governo, a distribuição de preservativos for limitada, o aumento de soropositivos do país será agravado.
Farzaneh Roudi, do Population Reference Bureau, uma usina de ideias de Washington afirma que Teerã poderia empregar mais mulheres se a preocupação é o envelhecimento da força de trabalho.
— É difícil imaginar que as pessoas começarão a ter mais filhos simplesmente porque essa é a vontade de Khamenei — afirmou Roudi.
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