Presidente aprova lei que institui Programa da Saúde Menstrual, mas alega que não há recursos para a distribuição gratuita de itens de higiene para a população de baixa renda que menstrua
(El País | 07/10/2021 | Por Joana Oliveira)
Para Jacira Melo, presidente do Instituto Patrícia Galvão, a decisão de Bolsonaro aprofundará ainda mais a desigualdade de gênero e a desigualdade social em um país onde a crise pandêmica levou as pessoas a catarem ossos para se alimentar. “É um veto assustador, uma falta de sensibilidade com a realidade do país. O presidente que, a todo momento, busca recurso para esse ou aquele gasto público, não consegue, junto com sua equipe de Saúde e Educação, encontrar recursos para suprir uma necessidade tão básica? É papel dele encontrar recursos para essas questões”, afirma. Melo também ressalta a falta de compreensão do presidente e seu Governo sobre o que significa saúde básica: “Estamos falando de algo fundamental, o cuidado menstrual de estudantes nas escolas.”
Para a antropóloga e colunista do EL PAÍS Debora Diniz, o veto é mais uma medida da “política misógina” do Governo Bolsonaro. “Não se trata apenas de uma necessidade de saúde, física e mental, mas de higiene, bem-estar, de participação na escola, nos esportes, na vida comum”, explica. Diniz lembra que, historicamente e por muito tempo, itens como absorventes foram considerados quase supérfluos, como produtos cosméticos. “Não há melhor exemplo de uma política patriarcal do que considerar que algo básico à integridade corporal da população capaz de gerar vida possa ser sistematicamente ignorado pelo Estado”, conclui.