Com maior rede de leite materno do mundo, Brasil ainda precisa de doadoras

16 de maio, 2017

O Brasil tem a maior e mais complexa rede de bancos de leite do mundo, com 221 unidades e 186 postos de coleta, segundo o Ministério da Saúde. Apesar da estrutura e das mobilizações, o número de doações ainda é baixo, e a Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano consegue suprir aproximadamente 60% da demanda para os recém-nascidos prematuros e de baixo peso internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) neonatais do país.

(Agência Brasil, 16/05/2017 – Acesse o site de origem)

Para ampliar a conscientização sobre a importância da doação de leite humano e incentivar a prática entre as mães que amamentam, o ministério lançou hoje (16) a campanha Doe Leite Materno de 2017, em parceria com a rede de bancos de leite.

“Nada é mais presente do que o senso de solidariedade de uma mãe que amamenta seu bebê. Se as mães não realizam a doação como a gente precisa, em verdade, é porque nós estamos sendo muito ineficazes no processo de comunicação com essas mães, sequer para apresentar o real significado da necessidade de doação”, disse o coordenador da Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano, João Aprígio.

Brasília - O Ministério da Saúde e a Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano lançam a campanha Doe Leite Materno (José Cruz/Agência Brasil)
O Ministério da Saúde e a Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano lançam a campanha Doe Leite MaternoJosé Cruz/Agência Brasil

Mortalidade infantil

A amamentação é o principal fator de redução da mortalidade infantil, pois diminui a ocorrência de diarreias e infecções, principais causas de morte em recém-nascidos. Estima-se que o aleitamento materno reduza em até 13% a morte de crianças menores de 5 anos por causas preveníveis.

Brasília - Gisele, com a filha Helena discursa durante o lançamento da campanha Doe Leite Materno (José Cruz/Agência Brasil)
Com a filha Helena, Gisele discursa durante o lançamento da campanha Doe Leite Materno José Cruz/Agência Brasil

Gisele Bortoline, de 33 anos, teve pré-eclampsia grave quando estava grávida de Helena, hoje com 1 ano e 3 meses. A menina nasceu prematura, com apenas 740 gramas, ficou internada por quatro meses na UTI neonatal e recebia leite materno por uma sonda.

Gisele conta que ordenhava o leite para a filha, mas que, com o tempo, não conseguiu retirar o suficiente e precisou do apoio do banco de leite. “As mães que doaram leite ajudaram a recuperar a Helena em uma fase tão crucial da vida. Isso foi fundamental”, disse.

“Se o leite humano já é tão importante para os bebês bem nascidos, o que dirá para essas crianças. O leite humano se apresenta como um fator de sobrevivência, sem nenhum exagero”, disse João Aprígio. “Para essas crianças, muito mais que um alimento, eles precisam de um fármaco, de um alimento funcional capaz de suprir aquilo que os produtos industrializados jamais supririam”, explicou.

No Brasil, nascem aproximadamente 3 milhões de bebês por ano, e 14% deles são prematuros ou têm baixo peso (menos que 2,5 quilos). “Ao trabalhar com essas crianças não estou preocupado apenas em recuperá-las mais prontamente para tirar da fase aguda, estou construindo um sujeito para vida toda”, disse Aprígio, explicando que o aleitamento materno também diminui a chances de doenças crônicas não transmissíveis.

Desenvolvida há 32 anos, a estratégia de bancos de leite beneficiou, entre 2009 e 2016, mais de 1,8 milhão de recém-nascidos e teve apoio de 1,3 milhão de doadoras.

O Brasil tem acordos de cooperação e exporta técnicas de baixo custo utilizadas na implantação de bancos de leite em 24 países. Segundo o Ministério da Saúde, em 2001, a Organização Mundial da Saúde reconheceu a Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano como uma das ações que mais contribuíram para a redução da mortalidade infantil no mundo na década de 1990. De 1990 a 2012, a taxa de mortalidade infantil no Brasil caiu 70,5%.

A doação de leite humano também representa uma economia de R$ 180 milhões com a diminuição da necessidade de compra de fórmulas artificiais nas maternidades do Sistema Único de Saúde (SUS).

Referência brasiliense

Brasília é a única cidade no mundo que tem autossuficiência em leite humano, por isso foi a escolhida para o lançamento da campanha Doe Leite Materno deste ano. “É o melhor exemplo que temos e nossa política é dar visibilidade às boas práticas para que isso possa se multiplicar dentre outros agentes públicos”, disse o ministro da Saúde, Ricardo Barros.

Brasília - Na 15 Semana Mundial de Amamentação, grupo de mães se reúne em Brasília para amamentar seus bebês simultaneamente em público e, com isso, chamar a atenção para a importância de amamentar (Valter
A amamentação é o principal fator de redução da mortalidade infantilValter Campanato/Arquivo/Agência Brasil

Para a coordenadora dos bancos de leite do Distrito Federal, Miriam Santos, primeiro é preciso conscientizar as mães de que o leite que ela tira não vai faltar para o seu bebê. Pelo contrário, quanto mais a mãe estimular a produção do leite, mais ela o terá.

“Segundo, que qualquer quantidade é suficiente. Uma mãe que consegue encher um único pote acha que ele não vai fazer diferença, mas faz e muita. Um pote (300 ml) pode alimentar até 10 crianças”, explicou. Este ano, o slogan da campanha é exatamente este: “Um pouquinho do que você doa é tudo para quem precisa”.

Entre as ações que fizeram do Distrito Federal referência em doação de leite humano, estão a comunicação, a atuação do setor de saúde e o sistema de coleta em parceria com o Corpo de Bombeiros. São 15 bancos de leite no DF, sendo 10 da rede estadual, dois da rede federal e três privados.

Nos quatro primeiros meses deste ano, 3.643 crianças receberam leite materno em UTIs neonatais no DF. “Temos corrido atrás para melhorar a coleta”, disse Miriam. A meta, segundo ela, é chegar a 1,5 mil litros de leite por mês.

Em Brasília, para doar, a mãe pode ligar para o número 160, opção 4, e fazer o cadastro, ou entrar no site amamentabrasilia.saude.df.gov.br. A página tem orientações e vídeos explicativos sobre como fazer a coleta.

Como doar

Toda mulher que amamenta é uma possível doadora de leite humano, basta estar saudável e não tomar nenhum medicamento que interfira na amamentação. Quem estiver amamentado e quiser doar pode procurar o banco de leite humano mais próximo ou ligar para o Disque Saúde, no número 136.

Não existe quantidade mínima para fazer a doação, ou seja, a mulher não precisa se preocupar em encher o pote para fazer a entrega. Todo leite doado é analisado, pasteurizado e submetido a rigoroso controle de qualidade antes de ser ofertado a uma criança.

Antes da coleta, a doadora deve fazer uma higiene pessoal, cobrir os cabelos com lenço ou touca, usar pano ou máscara sobre o nariz e a boca, lavar bem as mãos e os braços, até o cotovelo, com bastante água e sabão. As doadoras devem lavar as mamas apenas com água e, em seguida, secá-las com toalha limpa. O leite deve ser coletado em local limpo e tranquilo. O leite humano extraído para doação pode ficar no freezer ou no congelador da geladeira por até 10 dias. Nesse período, deverá ser transportado ao banco de leite humano mais próximo.

Edição: Luana Lourenço
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