(Nexo, 07/05/2016) Grupos de mulheres no Facebook e no Whatsapp substituem os antigos conselhos de tias
Dúvidas sobre a maternidade antes tiradas quase sempre por mães, tias e avós, agora são sanadas por desconhecidas via internet. É a avaliação que faz Liliana Morales, mãe há pouco mais de quatro anos, e participante de três grupos no Facebook sobre a questão.
São inúmeras comunidades disponíveis na rede, algumas exclusivas, outras abertas, para diferentes tipos de mulheres e sobre os mais variados pormenores da maternidade. Nesses espaços, mães discutem que pomada passar para rachadura no bico do seio, recomendações de clínicas de vacina ou onde encontrar o material escolar.
Liliana entrou pela primeira vez em um desses grupos antes mesmo de ele existir na rede social. Na época, estava assustada com o tamanho de seus seios após dar a luz e foi pesquisar possíveis razões na internet. Descobriu uma comunidade de mulheres do Yahoo que debatia a questão. Hoje, o Matrice, grupo dedicado principalmente à amamentação, tem quase 4 mil participantes no Facebook.
Liliana descobriu que estava tendo um ingurgitamento mamário, excesso de leite nas mamas, comum após o parto. Quatro anos mais tarde, ela segue ativa na rede, compartilhando sua experiência com novas mães.
“As mulheres chegam com dúvidas muito básicas, mas não têm informação, porque o sistema em geral não está interessado em promover a amamentação”, diz.
Grandes cidades
Patricia Pantarotti participa do Mães da Leopoldina, que reúne mais de 2.000 mães da zona oeste de São Paulo para trocar recomendações de bons pediatras, escolas e lojas da região. Às vezes, as mães deixam as redes para se encontrarem pessoalmente. Atualmente, planejam uma festa.
“Mães sentiram necessidade de trocar informações sobre serviços próximos de suas casas. De repente o grupo foi aumentando e virou esse fenômeno”, diz ela.
Para Liliana, as redes de apoio para mães sempre existiram, mas eram familiares e pessoas próximas. “Hoje em dia a mulher tem o bebê e vai pra dentro de um apartamento. A mulher tá sozinha, fechada num apartamento, com um bebê, sem saber o que fazer, acaba utilizando o grupo. Essa rede de mulheres antes era física e agora é virtual porque nas grandes cidades as pessoas são muito solitárias.”
Polêmicas
Por serem espaços abertos de debate, algumas discussões são travadas no interior dos grupos. Às vezes, acaloradas, exigem a intervenção de mães mediadoras.
Um caso de racismo na escola compartilhado no grupo Buxixo de Mãe provocou uma dissidência de mulheres há um ano, que criaram outro grupo. Na ocasião, uma mãe comentou como havia ficado desconfortável com o fato de que, na escola do filho, crianças se pintaram de preto. Mães discordaram sobre a interpretação da questão.
Para evitar grandes problemas, os grupos tendem a reunir pessoas que compartilham uma determinada visão de mundo, pelo menos no que se refere às questões da maternidade, como o parto natural humanizado, a defesa da amamentação, e outros. Em boa parte deles, é necessário preencher um formulário antes de entrar. É o caso do MaterNex, que agrupa mães em torno do debate sobre opressão, racismo, violência de gênero e sexualidade.
No formulário, a mãe precisa dizer por que se interessou pelo grupo e se é adepta da maternidade consciente.
“E aqui é o local para debatermos tudo que envolve essa jornada materna, desde o início da gestação até a educação das crias. Não existe assunto menor ou maior, todos são importantes e bem vindos, seja o aspecto do cocô do RN, seja o debate sobre direitos”, diz a descrição do MaterNex.
“É ótimo entrar nos temas com profundidade. Eles não são explorados em outros espaços como deveriam”, conclui Liliana.
Beatriz Montesanti
Acesse no site de origem: Como mães estão aprendendo sobre maternidade com desconhecidas na internet (Nexo, 07/05/2016)