(Folha de S.Paulo, 09/04/2016) A Defensoria Pública da União no Recife irá oferecer assessoria jurídica a famílias de crianças com microcefalia. O atendimento, que foi anunciado durante um mutirão, neste sábado (9), começa na sexta-feira (15), na sede do órgão, no centro da capital pernambucana.
Neste sábado, 30 famílias de bebês com a má-formação cerebral participaram de mutirão na clínica particular Pepita Duran, na zona norte do Recife. O serviço, oferecido em parceira com a Amar (Aliança das Mães e Famílias Raras), incluiu consultas com fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais para as crianças e atendimento psicológico e jurídico para os familiares.
De acordo com André Carneiro Leão, defensor público-chefe da União, as principais demandas das famílias são por pensão alimentícia e benefício de prestação continuada oferecido pelo INSS. Elas também se queixam de falta de remédios e de acesso a exames e consultas em hospitais públicos e privados.
“Criaremos um grupo de trabalho para atender pessoas com deficiência, mas principalmente com microcefalia. Também vamos acompanhar projetos de lei e ações do Poder Executivo com o intuito de cobrar respostas”, afirmou Leão.
Para Bruna Tamires Cabral, 23, a ação vem em boa hora. Moradora de Paudalho, a cerca de 50 quilômetros do Recife, ela acionou a Justiça para garantir o direito ao transporte para ela e o filho, Enzo Luiz de Lima, de cinco meses.
“Consigo trazer meu filho para as consultas porque meu marido paga as passagens. Mas é muito difícil para ele, que ganha um salário mínimo e tem meses que chega a gastar R$ 400 com passagem, porque a prefeitura não quer liberar o carro. Precisamos que os direitos dos nossos filhos sejam garantidos e respeitados”, disse Bruna.
A reportagem tentou contato com a Prefeitura de Paudalho neste sábado, mas ninguém atendeu o telefone.
FISIOTERAPIA
Todos os bebês atendidos no mutirão apresentaram sérios problemas motores. Segundo a fisioterapeuta Pepita Duran, especialista em atendimento infantil, o quadro mais comum é de hipertonia.
“A gente observa um aumento do tônus muscular associado a um controle motor inadequado para a idade. Por exemplo, o mais velho que atendemos foi um bebê de sete meses. Era para ele conseguir sentar ou, pelo menos, tentar, e vimos que ele não consegue”, afirmou.
Pepita diz que com estimulação é possível que as crianças aprimorem suas habilidades, mas que para isso é preciso um acompanhamento especializado e constante.
O pequeno Joaquim Gabriel Ferreira, de cinco meses, já havia feito sessões de fisioterapia, mas, segundo a mãe dele, Maria de Fátima Oliveira, 21, essa foi a primeira vez que a consulta durou mais de 15 minutos. “Na minha cidade, o fisioterapeuta coloca ele no colo, estica os braços, as pernas, avalia a cabeça e pronto, manda para casa. Hoje não, aqui eu vi que houve estimulação completa”, disse.
O Crefito 1 (Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional da 1ª Região), parceiro do mutirão, estuda a criação de um protocolo de atendimento aos bebês com microcefalia. “Vamos capacitar os profissionais e uniformizar as terapias, para que todos tenham um bom atendimento na capital e no interior”, disse a conselheira Cinthia Vasconcelos.
O mutirão, que contou com a participação de cerca de 50 voluntários, também teve doação de roupas, fraldas, calçados, material de higiene pessoal e leite para as crianças.
BOLETIM
Pernambuco continua sendo o Estado com o maior número de notificações de casos de microcefalia. De acordo com o último boletim da Secretaria Estadual de Saúde, divulgado no último dia 5, entre 1º de agosto do ano passado e o dia 2 de abril, foram notificados 1.846 bebês com suspeita da má-formação. Ao todo, 303 casos foram confirmados.
O Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães/Fiocruz confirmou 129 casos de microcefalia relacionados ao vírus da zika, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, por meio de exame que detecta o anticorpo IgM no líquido cefalorraquidiano das crianças.
Kleber Nunes
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