(Super Esportes, 21/06/2016) Pesquisador da USP estima 15 casos de zika durante os Jogos Olímpicos.
O professor Eduardo Massad, patologista da Faculdade de Medicina da USP, fez os cálculos do risco de dengue e zika para os turistas que forem aos Jogos do Rio-2016. Segundo o modelo matemático criado por ele, são estimados 15 casos de zika e 250 de dengue entre turistas durante as três semanas de evento.
Para o grupo de 150 pesquisadores que assinou a carta dirigida à Organização Mundial de Saúde com recomendações para adiar os Jogos no Rio, trata-se de um número conservador, mas isso, na verdade, é irrelevante. “Uma vez que a cepa do vírus contamine um ou dois estrangeiros, ela vai se espalhar em proporções imensuráveis e será um risco para todos”, ilustra, em entrevista ao Correio, Angelica Baylon, pesquisadora da Academia Marítima da Ásia, nas Filipinas. “É o efeito dominó que precisa ser evitado a qualquer custo.”
Outro ponto de atenção, na opinião da professora Débora Diniz,está em não ressaltar as mulheres no centro da discussão. “São elas que enfrentam, solitárias, a profunda angústia de poderem ter seus planos reprodutivos afetados pela epidemia.”
Curiosamente, para outro profissional que assinou a carta, o próprio país deveria defender o adiamento dos Jogos. Professor da Icahn School of Medicine em Nova York, Robert Baker, por exemplo, disse acreditar que não só a OMS deveria adiar as Olimpíadas, como o Brasil usar esse tempo “como uma oportunidade para reunir países que possam oferecer recursos para conter a epidemia”. Baker ressalta ainda que “experts em doenças contagiosas dos EUA criticaram a condescendência letal da OMS no episódio do Ebola”. “Meu medo é que essa atitude complacente esteja se repetindo com o zika.”
Organização rebate carta de cientistas
O ministro da Saúde do Brasil, Ricardo Barros, classificou como “exagerada” a carta aberta dos cientistas enviada para a Organização Mundial de Saúde (OMS) ,que recomendava o adiamento ou a transferência dos Jogos no Rio. “Há um excesso de zelo. A zika já está presente em 60 países. Não será a Olimpíada que vai propagar a doença”, argumentou, na última quinta-feira. De acordo com o ministro, 3,5 mil agentes externos e 2,5 mil funcionários foram mobilizados para trabalhar em ações preventivas e para reforçar a assistência à saúde no Rio de Janeiro.
Já a Rio-2016 destaca que o número de pessoas infectadas pelo vírus no Rio de Janeiro caiu significativamente nas últimas semanas e serão quase nulos em agosto e setembro, meses dos Jogos Rio 2016. “Os números de zika apresentaram boas quedas em abril”, disse João Grangeiro, chefe médico do Comitê Rio 2016. “Os meses mais frios e secos reduzem a população de mosquitos, o que reduz o risco de infecções por mosquitos que já nascem com o vírus”, prosseguiu.
Segundo a organização, “Cada arena passa por uma checagem diária para evitar acúmulos de água parada. Instalações maiores, como a Vila dos Atletas, passam por esse processo mais de uma vez por dia”. A Rio-2016 acrescentou ainda que todos os atletas, turistas e profissionais envolvidos nos Jogos serão orientados sobre como se proteger do mosquito assim que chegarem ao Rio e também antes do embarque.
Rejeição à carta
A reação imediata da Organização Mundial de Saúde (OMS) à carta dos 150 cientistas foi rejeitá-la. A OMS argumenta que o evento não implicará um risco maior ao já existente de propagação da doença. Na semana seguinte ao anúncio, porém, a entidade se mostrou mais criteriosa nas recomendações em relação à prevenção da zika por turistas que viajam para áreas contaminadas. O que, para o professor Arthur Caplan, da Universidade de Medicina Langone, reflete uma preocupação velada da entidade com os motivos apontados pelos cientistas.
Maíra Nunes