(Marina Pita/Agência Patrícia Galvão, 20/04/2016) Especialista em medicina sanitária, Tânia Lago reforça a importância de estados e municípios utilizarem todos os instrumentos disponíveis para formar profissionais e disponibilizar os exames na redes pública
As secretarias de saúde de estados e municípios, além do Ministério da Saúde, precisam se mobilizar e fazer mais para informar os profissionais da área, que atuam na ponta, sobre a infecção por zika vírus. A realidade, porém, é que nem os instrumentos tradicionalmente utilizados em casos de epidemia para este fim foram mobilizados neste momento de emergência de saúde pública.
A opinião é da doutora, especialista em saúde pública, professora do Departamento de Medicina Social da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, Tania Di Giacomo do Lago. “Um exemplo é o envio de informações precisas e curtas para todos os médicos, pelas listas do Conselho Federal de Medicina e conselhos estaduais de medicina. As secretarias de estado precisam fazer uso dessas ferramentas para explicar acerca de como fazer o diagnóstico”, afirma Tania.
Além da ausência de informação qualificada sobre a infecção por zika vírus e a síndrome congênita relacionada, tanto para profissionais quanto para a população em geral, o Brasil também aguarda a oferta de exames.
“A notificação dos casos não vai ocorrer adequadamente se não houver acesso ao teste – estamos falando do PCR e da sorologia. Atualmente não há nenhum dos dois disponível na rede pública”, destaca a doutora, médica sanitarista da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo.
Resultados trágicos
A desinformação dos profissionais de saúde, somada à ausência dos exames na rede pública, impede que o Brasil tenha a real dimensão da epidemia e possa controlá-la adequadamente. “Fazer o teste e poder saber se a doença entrou no nosso meio é fundamental do ponto de vista da vigilância e da assistência à saúde”, avalia Tania Lago.
A especialista lembra ainda que cabe aos profissionais da saúde esclarecerem as dúvidas da população. “A mídia informa, mas muitas vezes de forma confusa. E os profissionais de saúde devem ser capazes de desfazer confusões”, frisa. No caso das mulheres grávidas – que correm riscos adicionais à saúde e ao desenvolvimento do feto –, é muito importante que os médicos saibam quando suspeitar de um possível caso de zika, para seguir a mulher, esclarecer os possíveis riscos e notificar a rede, e para que o público saiba se a doença está ocorrendo no meio.
São Paulo, uma incógnita
A falta de informação e de exames para a identificação da zika pode acarretar em erros de notificação e consequente ineficiência no controle e combate à epidemia. Hoje, explica Tania, pairam dúvidas quanto aos dados epidemiológicos no município de São Paulo, por exemplo. Isso porque há aumento na notificação de dengue na capital do Estado, ao mesmo tempo em que há aumento do número de resultados negativos para dengue.
“Ainda há dúvidas se não temos a doença ou se não estamos reconhecendo, não notificando. A doença pode estar ocorrendo e não sabemos do que se trata. Fica a dúvida: será que esses casos negativos no exame não seriam de zika, que os profissionais não identificam por desconhecerem a situação? ”, avalia a médica sanitarista.
No início da transmissão do zika no Brasil, uma série de exames negativos para dengue – apesar dos sintomas apresentados pelos pacientes serem semelhantes ao da dengue – fez surgir o boato que havia uma epidemia de “dengue leve”. A doença, que depois veio-se a descobrir seria a infecção por zika, provou que de leve não tem nada. Pode causar diversas alterações no sistema nervoso de adultos e má formações e até abortos no caso da contração do vírus por grávidas.
Tania Lago é uma das painelistas confirmadas para o 9° Seminário Mulher e Mídia – Mídia, Zika e Direitos das Mulheres.