(Uol, 16/06/2016) O filho da pernambucana Rosileide Maria da Silva, de 30 anos, é mais um dos bebês com microcefalia causada pelo vírus da zika que foram internados nas últimas semanas com problemas respiratórios graves.
João Miguel, de oito meses, ficou quatro dias na emergência no Hospital Barão de Lucena, no Recife, e chegou a ter uma parada cardíaca.
Seus pais chegaram a garantir uma vaga na UTI por meio de um pedido do Ministério Público à Justiça. No entanto, só havia disponibilidade em um hospital no interior do Estado, e os médicos afirmaram que a viagem poderia custar a vida do bebê.
Na noite do último domingo, João Miguel conseguiu a vaga. Ele permanece em tratamento intensivo.
Confira o depoimento de Rosileide à BBC Brasil:
“Na quinta-feira passada, quando João Miguel acordou, ele começou a gritar com a voz rouca. Ele gritava sem parar e eu tentava fazer com que se acalmasse, mas nada.
No hospital, a médica disse que ele tinha uma crise de asma muito forte, mas fez um raio-X e não deu nada. Eles o colocaram na nebulização, mas não adiantou. Depois resolveram intubá-lo, porque disseram que ele não aguentaria aquela situação.
Mesmo assim, ele ainda fazia muita força para respirar. Quando foram trocar o tubo por um maior, ele teve uma parada.
Meu filho ficou quatro dias na emergência e meu sofrimento só aumentava, porque eu sabia que as máquinas não estavam funcionando 100%. A máquina de oxigênio estava com defeito, a fisioterapeuta pulmonar me falou isso. E o hospital não tinha outra.
Os instrumentos para aferir a pressão foram trocados três vezes porque estavam com defeito, cada hora era um pior (chora).
Eu me senti o pior ser humano do mundo. Ao ver seu filho numa situação dessa e não ter como ajudar, você se sente incapaz. E a médica falando que era muito grave, que ele precisava de uma UTI.
Eu entrei em desespero, procurei chão para entrar e não tinha. Acho uma falta de respeito com o ser humano. Uma criança com oito meses esperar quatro dias por uma vaga é muito sofrimento.
Estou há seis dias no hospital. Não consigo dormir, eu tenho que estar o tempo todo auxiliando ele. Preciso vir tirar meu leite de três em três horas. É muito importante para ele, que está se alimentando por uma sonda.
Estou triste porque meu leite está secando. Tenho que tirar 70 ml e só consegui 10 ml. Mas mesmo assim tiro esse pouquinho, levo para elas misturarem com a fórmula e darem para ele.
Ele continua estável, mas melhorou desde o dia em que chegou aqui.
Neste mesmo hospital, em 2014, eu perdi uma filha. Estava com mais de nove meses de gravidez e vim dar à luz. Mas por falta de estrutura do hospital e incompetência, ela passou muito tempo na minha barriga e aspirou o mecônio (primeira evacuação de um recém-nascido) para o pulmão.
Ela foi retirada e entubada, ficou três dias na UTI mas não resistiu, porque teve uma infecção pulmonar.”
Estrutura semelhante à de UTI, diz secretaria
Em nota, a Secretaria de Saúde de Pernambuco afirmou que João Miguel ficou internado na emergência “em estrutura semelhante a uma UTI, com medicamentos de última geração e equipamentos de ponta, e recebendo todos os cuidados da equipe multidisciplinar do HBL (Hospital Barão de Lucena), enquanto aguardava pela liberação de uma vaga na unidade”.
“É importante ressaltar que a emergência pediátrica do HBL foi inaugurada no ano de 2014 e foi totalmente reequipada com novos equipamentos e aparelhos. Além disso, nos casos pontuais em que alguma máquina apresenta mau funcionamento, a equipe médica faz a notificação à área técnica, que realiza a troca e o envio imediato do equipamento para o conserto”, disse o comunicado.
Gabriela Belém
De Recife – BBC Brail
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