Doenças transmitidas por mosquitos afetam muito mais os mais pobres e vulneráveis, pois os governos não garantem um sistema de água e esgoto decentes
(Ondda, 15/09/2016 – Acesse no site de origem)
Quando um surto de doenças infecciosas aparece, vem à tona também questões sociais que incluem pobreza, desigualdade e discriminação. Essa é a conclusão que especialistas do programa Impacto Acadêmico das Nações Unidas (UNAI, em inglês) chegaram. Revelaram ainda que a atual disseminação do vírus zika no Brasil expõe um quadro de “injustiças sistêmicas” presente nos sistemas de saúde internacionais.
É fácil de compreender a resolução dos pesquisadores: doenças transmitidas por mosquitos afetam muito mais os mais pobres e vulneráveis, pois os governos não garantem um sistema de água e esgoto decentes, obrigando a população a armazenar água e consequentemente criar focos de transmissão.
De acordo com Alexandra Phelan e Lawrence Gostin, pesquisadores da Universidade de Georgetown (EUA), os governos não priorizam programas de controle de possíveis criadouros dos mosquitos (especialmente em países enfrentando uma crise econômica e política, como é o caso do Brasil). Isso possibilita que o vírus contamine as comunidades mais pobres.
Mais preocupante ainda são os danos que o zika causa às mulheres, por viverem as tragédias da possibilidade de uma aborto ou da malformação fetal – culminando no nascimento de uma criança com deficiências causadas por síndromes neurológicas e microcefalia –.
Ainda segundo os pesquisadores, o drama acompanha a parcela carente da população desde a gestação, pois na maior parte dos países das Américas, é inviável a determinadas classes sociais o serviço amplo de saúde reprodutiva, incluindo contracepção, aborto e saúde maternal e infantil, quanto depois, pois os sistemas de saúde não estão equipados para fornecer o cuidado necessário para que as pessoas vivam de forma saudável após a microcefalia ser constatada.
Inação é Omissão
De acordo com o professor Daniel Lucey, do Centro Médico da Universidade de Georgetown, se o Brasil tivesse reconhecido e se antecipado, relacionaria os casos de microcefalia a partir do surto de zika acontecido antes na Polinésia Francesa. Investindo em ações prévias e apropriadas, as consequências poderiam ter sido bem menos catastróficas do que elas se desenham. O não agir é reflexo das “injustiças sistêmicas”.
Quando se está em jogo a saúde pública, não há que se esperar ter todas as informações à disposição para ver o que acontece, pois surtos de doenças infecciosas normalmente só ganham a atenção durante a fase de transmissão. Ou seja, muito tarde para a população mais pobre.
Segundo Lucey, tomar uma ação prematura visando uma prevenção de uma pandemia, poderia parecer exagero num primeiro momento, mas impediria que a inação precoce afetasse profundamente as comunidades mais vulneráveis.