Profissionais de saúde que atuam em serviços de abortamento legal criticam estudos usados para projeto de lei que cria Dia Nacional do Nascituro e de Conscientização sobre os Riscos do Aborto; iniciativa é capitaneada pela ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves
(O Globo – Celina | 30/07/2021 | Por Leda Antunes)
O governo federal tem um plano para o dia 8 de outubro. A ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, quer que a data seja marcada pelo Dia Nacional do Nascituro e de Conscientização sobre os Riscos do Aborto. O projeto de lei foi assinado pelo presidente Jair Bolsonaro na semana passada. O objetivo, segundo a pasta, é “prestar informações de interesse público, com base em evidências científicas” sobre supostos riscos da interrupção da gravidez na saúde física e mental das mulheres.
As evidências citadas pelo ministério, no entanto, são questionadas por profissionais de saúde que atuam nos principais serviços de abortamento legal do país e que repudiam a iniciativa. Para estes especialistas, os dados sobre os riscos do aborto que o governo pretende divulgar, caso o projeto de lei seja aprovado e a data instituída, foram retirados de estudos que apresentam uma série de falhas e não têm rigor científico.
As supostas consequências da prática do aborto são citadas brevemente na nota que abre a consulta pública sobre o projeto de lei, realizada entre abril e maio no site do Governo Federal, e foram detalhadas pelo ministério à reportagem.
Também a pedido da reportagem de CELINA, quatro profissionais de saúde que atuam nos serviços de abortamento legal do país e pesquisam sobre o tema analisaram as publicações citadas como referência pelo ministério e a conclusão foi unânime: os dados não são confiáveis, não têm rigor científico e outros estudos de referência provam o contrário das alegações da pasta sobre a interrupção voluntária da gravidez.