Instituto do Cérebro vai atender bebês com microcefalia e grávidas

29 de fevereiro, 2016

(O Globo, 29/02/2016) Cuidados a 200 crianças que com a síndrome começam nesta terça

O Instituto Estadual do Cérebro (IEC) concentrará o atendimento de crianças com microcefalia expostas ao vírus zika e também de grávidas que estejam esperando bebês com a má formação cerebral. O anúncio foi feito nesta segunda-feira pelo secretário estadual de Saúde, Luiz Antônio Teixeira Júnior, junto com o diretor médico do instituto, Paulo Niemeyer. Segundo o secretário, há hoje no Rio pelo menos 48 mães gerando crianças com a síndrome, e cerca de 200 bebês já nasceram com a doença. Todos esses pacientes começam a ser atendidos nesta terça-feira no IEC. E a expectativa é de que, daqui em diante, 50 crianças por mês iniciem o acompanhameno na unidade.

— Sabemos que a epidemia, que hoje atinge a América Latina e o Caribe, pode se espalhar pelo mundo. Queremos criar aqui um modelo de atendimento à microcefalia. Tentaremos entender a expectativa de futuro dessas crianças e identificar que rede de proteção social será necessária montar para atender ao bebê e a sua família — disse Luiz Antônio.

Pelo protocolo definido pela secretaria, gestantes com diagnóstico confirmado de zika, seja na rede pública ou privada de saúde, poderão fazer ultrassonografias no Rio Imagem. Confirmada a gravidez de um bebê com microcefalia, as mães serão encaminhadas para o IEC, onde farão uma ressonância magnética fetal com objetivo de identificar, ainda antes de o bebê nascer, que tipos de comprometimentos ele terá.

As crianças também passarão por consultas multidisciplinares — com pediatras, neuropediatras, fisioterapeutas, fonoaudiólogos e psicoterapeutas, entre outros — e exames de alta complexidade. Neurologista, Paulo Niemeyer lembra que cerca de 40% dos pacientes com microcefalia têm epilepsias, por exemplo. Dependendo do nível de má formação do cérebro, ressalta o médico, ela pode ter dificuldades até para sucção do leite materno. E a grande maioria pode precisar de reabilitação física, para o que o estado planeja, inclusive, convênios com instituições como a Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação (ABBR).

— Cada uma das crianças passará por pelo menos 10 atendimentos de profissionais diferentes. Elas sairão daqui com um direcionamento do que cada uma precisa. A partir desses casos, faremos um estudo para tentar entender melhor a doença e como conduzi-la daqui para frente — afirma Paulo Niemeyer, explicando o que a ressonância poderá identificar nos fetos de grávidas que estiverem aguardando bebês com microcefalia. — É o único exame que pode mostrar o cérebro com detalhes, apontando que regiões não se desenvolveram ou foram comprometidas.

Os pacientes, no entanto, não procurarão o IEC diretamente. A secretaria explica que fará uma busca ativa das mães e crianças que serão atendidas no instituto, com base no monitoramento feito pela subsecretaria de Vigilância em Saúde, que desde junho do ano passado monitora os casos de microcefalia. O encaminhamento para o hospital será feito por meio da regulação interna da secretaria. Mas, além de contato pelo site da secretaria, em breve será possível tirar dúvidas sobre como acessar o atendimento por meio de um serviço telefônico e também um aplicativo.

De acordo com Paulo Niemeyer, a estrutura para receber esses casos será a já existente no instituto, sobretudo do setor de neuroepilepsia do hospital. Ele afirma que, por enquanto, não será necessária a contratação de mais profissionais para a unidade — o que vai ser reavaliado caso aumente a demanda por atendimentos. Em princípio, diz ele, algumas crianças precisarão de um acompanhamento maior, dependendo do nível de comprometimento cerebral causado pela doença.

— Se a mãe é infectada pelo vírus zika bem no início da gravidez ou no final, podemos ter um comprometimento maior ou menor do cérebro. Quando é muito inicial, o cérebro fica muito comprometido. Quando se faz uma ressonância do crânio, existe quase um vazio. O cérebro não se desenvolve. Essas crianças terão, às vezes, até uma dificuldade de alimentação — explica.

Guillain-Barré também terá unidade de referência

A Secretaria Estadual de Saúde e o Instituto Estadual do Cérebro também estão definindo um protocolo para atendimento de pacientes por Guillain-Barré. E, em parceria com o Ministério da Saúde, será decidido que hospital será referência no atendimento à síndrome. A divulgação da unidade e do protocolo deve ser feita em até dez dias.

Rafael Galdo 

Acesse em pdf: Instituto do Cérebro vai atender bebês com microcefalia e grávidas (O Globo, 29/02/2016)

 

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