Mudança foi aprovada em março, mas introdução dos serviços foi adiada pelo ministro da Saúde, acusado de usar o coronavírus para interromper o processo por objeções ideológicas
(Celina/O Globo, 12/04/2020 – acesse no site de origem)
LONDRES. Após uma semana de crescente pressão, o Departamento de Saúde da Irlanda do Norte autorizou serviços de aborto na região na última quinta-feira (9), colocando em vigor legislação que anula uma das leis de aborto mais restritivas do mundo.
No mês passado, os direitos ao aborto foram estendidos à Irlanda do Norte para gestações até 12 semanas, mas a introdução dos serviços foi adiada pelo ministro da Saúde, Robin Swann, acusado de usar o surto de coronavírus para interromper o processo por causa de suas objeções ideológicas.
Antes das leis entrarem em vigor na ultima quinta-feira, as mulheres que buscavam abortos gratuitos na Irlanda do Norte tinham que viajar para a Inglaterra. Serviços de aborto estão disponíveis na República da Irlanda, mas o custo de US$ 500 é proibitivo para muitas mulheres.
Atualmente, devido ao bloqueio de circulação imposto pelo coronavírus, a única maneira de chegar à Inglaterra é fazer uma viagem de balsa de oito horas de Belfast a Liverpool.
Uma vez lá, as mulheres se encontram com um médico e são obrigadas a tomar uma pílula de aborto na presença do médico. Muitas delas, incapazes de pagar acomodações durante a noite, retornam imediatamente à balsa, onde correm o risco de abortar durante a viagem para casa.
Indignados com a situação, os grupos de direitos das mulheres ameaçaram as autoridades de saúde da região com ações nos tribunais. Depois de receber aconselhamento jurídico, o Departamento de Saúde disse na quinta-feira que autorizaria profissionais médicos em hospitais e clínicas a prestar serviços.
“A confirmação que recebemos hoje significa que o Northern Ireland Health Trusts agora fornecerá aborto médico na Irlanda do Norte”, afirmou Emma Campbell, co-presidente do grupo de direitos reprodutivos da Irlanda do Norte Alliance for Choice, em comunicado nesta sexta-feira.
“Isso impedirá que centenas de mulheres e grávidas tenham que viajar desnecessariamente para clínicas na Inglaterra, colocando-se em risco”, acrescentou.
Grupos de direitos ao aborto agora estão pedindo às autoridades de saúde que autorizem o fornecimento de abortos por telemedicina, recentemente introduzidos no resto do Reino Unido. Isso permitiria que as mulheres da Irlanda do Norte, nos estágios iniciais da gravidez, autoadministrassem o medicamento contra o aborto em casa, após uma consulta remota com um médico.
Por Ceylan Yeginsu, do New York Times