Mamógrafo 3D aumenta em 30% a chance de diagnóstico. Enquanto algumas cidades têm tecnologia, em outras, mulheres precisam viajar para exame.
(Jornal Nacional, 11/11/2017 – acesse no site de origem)
Mais de oito milhões de mulheres deixaram de fazer o exame de mamografia em 2016 no Brasil. E a espera pelo exame pode superar dois anos. São 60 mil novos casos a cada ano e a maior arma contra a doença é a prevenção.
Maria Luiza se livrou do tumor na mama em 2013. Em uma mamografia de acompanhamento, no Inca III, no Rio, ela foi examinada pelo mamógrafo de tomossíntese, em 3D. O equipamento é o que há de mais moderno e completo, no mundo, no diagnóstico de câncer de mama.
“Você tem vários cortes que são montados por um software, que transforma isso em uma situação tridimensional. Então, você pode ‘passear’ com vários cortes dentro da própria mama. Ele tem um diagnóstico mais preciso”, destaca Marcelo Bello, diretor do Hospital do Câncer III.
Pacientes de Manaus também têm acesso ao mamógrafo em 3D. O equipamento, recém-chegado ao Instituto de Mama do Amazonas, aumenta em 30% a chance de diagnóstico. “Eu passei de 65% a 95% de chance de detecção de câncer de mama”, diz Sabrina Bianco, radiologista
Essa tecnologia está disponível, ainda, às pacientes do Hospital de Barretos, no interior de São Paulo, um dos mais conceituados do Brasil. A projeção de imagens durante o exame é para gerar conforto e tranquilidade às mulheres.
Da alta tecnologia para a precariedade da saúde. Quando o assunto é mamografia, o interior do país contrasta com os grandes centros. Maricá é um dos 42 municípios do Rio que não têm mamógrafo. Assim como em muitos outros lugares do país, as mulheres de lá precisam viajar para fazer o exame pelo SUS.
Para o grupo de Maricá, o mamógrafo mais perto é no Rio. A quase cem quilômetros de distância, e onde não há vagas para o exame.
A espera de Dona Enir Mendes, que tem cinco casos de câncer de mama na família, já completou dois anos: “Vamos morrer muitas mulheres com câncer de mama. Muitas por má informação. Umas por não conhecimento e outras por ter conhecimento, mas não ter acesso”.
O Distrito Federal, o Amapá e o Acre têm apenas seis mamógrafos do SUS, cada um, de acordo com um levantamento do Ministério da Saúde, feito em 2017.
Dona Maria faz longas viagens até Rio Branco em busca de mamografia: “A gente gasta umas quatro horas, ou mais para chegar aqui”, conta.
Mas o quadro é ruim em quase todo o Brasil. Um levantamento da Sociedade Brasileira de Mastologia revela que, no ano passado, mais de 2,7 milhões de mulheres, com idades entre 50 e 69 anos, fizeram a mamografia. Mas o número de mulheres que deixaram de fazer o exame foi três vezes maior: quase 8,5 milhões.
“A má distribuição é um dos grandes obstáculos que nós temos. Boa parte dos mamógrafos estão localizados nas capitais”, destaca Ruffo de Freitas Jr., presidente do conselho deliberativo da Sociedade Brasileira de Mastologia.
Mas para a Secretaria de Atenção à Saúde, o maior problema é que 40% dos encaminhamentos para exames de rastreamento estão fora da recomendação do ministério.
“Nosso maior desafio é fazer com que as mulheres de 50 a 70 anos é que se submetam à mamografia de rastreamento a cada dois anos” afirma Maria Inez Gadelha, chefe de gabinete da Secretária de Atenção à Saúde – MIS.
O difícil é entender qualquer explicação quando se vive o drama da espera por um exame. “Saúde aqui no Brasil não é para todos”, afirma Dona Enir Mendes.