(Folha de S.Paulo) A candidata Dilma Rousseff (PT) reafirmou que não mudou sua posição em relação ao aborto. Dilma disse também “lamentar” o comentário de Marina Silva (PV) de que tivesse passado a adotar uma posição conservadora por conveniência eleitoral.
Dilma voltou a falar sobre o tema do aborto um dia após seu encontro com líderes religiosos, realizado com o objetivo de neutralizar uma campanha na internet que vinculava sua candidatura à defesa do aborto. Marina Silva também voltou ao assunto para negar que sua campanha tenha qualquer ligação com a onda de boatos sobre a petista. “Ninguém da minha campanha espalha boatos. O que existe é uma infinidade de blogs que brigam entre eles, na candidatura oficial de oposição e na candidatura oficial de situação. Vamos continuar conduzindo o debate de forma respeitosa”, disse Marina.
“Eu lamento que a Marina faça avaliações a respeito das minhas convicções”, declarou Dilma, que completou dizendo que ser contra o aborto é uma “posição pessoal” sua. Dilma disse ser “pessoalmente contra” o aborto. “Nunca escondi que acho que a questão do tratamento das mulheres, principalmente das milhares de mulheres pobres que recorrem ao aborto, não é uma questão de polícia, é de saúde pública”.
[A reportagem da Folha lembra, no entanto, que, em sabatina promovida pelo jornal em 2007, Dilma Rousseff afirmou: “Acho que tem de haver descriminalização do aborto. Não é uma questão de foro íntimo, não”.]
Quando perguntada se, caso eleita presidente, poderia enviar ao Congresso uma proposta para flexibilizar ou descriminalizar a questão, Dilma negou. “Eu não enviarei ao Congresso Nacional nenhuma medida para alterar legislação nenhuma [sobre o aborto].”
Dilma afirmou ainda ser contrária a um plebiscito – proposta pela candidata Marina – sobre o assunto, porque em outros países esse tipo de consulta já causou “animosidade entre irmão”.
Marina comentou também a polêmica em torno do posicionamento de Dilma Rousseff sobre a legalização do aborto. “Minha ética não é baseada nas circunstâncias. Se tem alguma novidade sobre os temas de comportamento não é minha. Sempre fui contra o aborto, por uma questão de princípio. Sou a favor da vida” afirmou Marina.
Perguntada sobre o que achava da declaração do bispo Edir Macedo, líder da Igreja Universal do Reino de Deus, de apoio à candidatura de Dilma Rousseff, Marina disse que tem maturidade para não fazer do debate uma espécie de “guerra santa”.
Peso do voto religioso – Pesquisa Datafolha realizada entre os dias 30 de junho e 1º de julho apontou que: 62% dos entrevistados disseram ser católicos, 25% declararam ser evangélicos -dos quais 18% são pentecostais e 7% são não pentecostais-, 3% são espíritas; e 7% disseram não ter religião.
Para o sociólogo Antônio Flávio Pierucci, da USP, que conduz pesquisa em igrejas evangélicas, a religião nunca foi uma variável importante para o eleitor. Embora concorde que haja uma campanha contra Dilma Rousseff, ele diz que as razões espirituais não são tão importantes. “Existe um discurso quase mitológico que procura demonizar Dilma. Há um medo, a meu ver infundado, de que seu governo venha a restringir os meios de comunicação, que são o oxigênio do crescimento dessas igrejas”, diz Pierucci, para quem é essa “suposta ameaça à existência física das igrejas evangélicas” que explica a movimentação dos pastores. “A radicalização não pode ser compreendida como se fosse apenas a discussão de ideias religiosas contra o aborto e o casamento gay. Existe a fantasia de uma ameaça concreta”, diz o pesquisador.
Leia na íntegra:
Petista perde voto entre eleitores evangélicos, segundo o Ibope (Folha de S.Paulo – 02/10/2010)
Dilma diz que não mudou sobre aborto (Folha de S.Paulo – 01/10/2010)
Marina: ‘Povo quer o feminino na Presidência’ (O Estado de S. Paulo – 01/10/2010)